15 dezembro, 2005

Retorno

"Eu luto pela vida: um trabalho real, que vale a pena. Não tenho nenhum desejo de morrer, mas já vivi tão perto do morte e de suas conseqüências que a vejo agora como algo natural. Todos nós devemos morrer um dia, mas a morte sempre virá cedo demais para o homem ou a mulher que tem uma intensa sede de viver. Cada minuto que passa tem um significado, uma profundidade maior do que qualquer outra coisa, mesmo que pareça comum e rotineiro. Cada rajada de vento, cada canto da cigarra, cada revoada de pombos é como um poema.
Sei que os que trabalham pela justiça sempre terão o direito a seu lado e receberão a ajuda de Deus; estes irão prevalecer, e a verdade resplandecerá.
É melhor ser rico de espírito do que em bens materiais."¹
Marrianella García Villas*
* Marrianella G. Villas foi assassinada em 1983 por militares na república centro-americana de El Salvador. Jovem advogada, formou um comitê de direitos humanos para investigar casos de desaparecimento e tortura.
¹ Gaarder, Jostein [et all]. O Livro das Religiões. Trad. Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

24 outubro, 2005

Realidade e Magia

O que se entende sobre a infância?

Mais uma vez eu tentei me enganar, mas não consegui. Não conseguiu entorpecer-me em seus braços, pois sua imaturidade não consentiu.
Engraçado como os sentimentos de pertença morrem com tanta facilidade! A falta de compromisso, de seriedade para com a amizade e tudo mais.
Pudera, eu sabia dos efeitos de meu entendimento desenfreado. Eu sabia dos riscos ao tentar harmonizar e ajudar a construir o seu mundo. Tudo bem! Foi um risco que preferi viver a ser covarde...

Sabe, sou capaz de acertar se imaginar que mesmo lendo inúmeras vezes estas linhas não entenderá no final a minha intenção. É sabida a razão: não sou mais criança e não vivo em um "mundo" mágico. Saiba que mesmo construindo um mundo mágico logo ele será destruído pela violência banalizada, pelo egoísmo humano (o mesmo que assola o seu caráter) e pelo amor (bobo e romântico). Destruição inevitável e certa, como a morte.

A infância pendura até o acúmulo de responsabilidade e compromisso social. Você é capaz de acumulá-los?
Com o seu fim, as pessoas ficam menos animadas para o acaso.
Por exemplo: As crianças que fazem parte de seu mundo fantástico serão adultas um dia, e assim como as outras que virão. E você? Quando enfrentará as dificuldades?
Ainda há tempo para pensar. As crianças nunca deixarão de procurar respostas sobre a vida que você não quis, em minha companhia, refletir. Mas eu paro por aqui este assunto, paro sim! Senão eu posso cometer injustiças.

Resolvi dificuldades em sua companhia: não cobiço o amor eterno-fútil (de aparências e insuflado pelo egoísmo). Ao contrário, agora estou certo das felicidades que poderei ter ao lado de outra pessoa. Não só de Paz vive o ser humano, mas de todas as Felicidades que pretende viver.
Em seu mundo (mágico) deverá existir poucas dificuldades, ao contrário do meu (real) . Será que nos veremos novamente? E onde nos encontraremos, no meu ou no seu mundo?

O que é tristeza se permito-me ser livre?
O que é solidão se possuo livros?
O que é mágico se não posso criar o hipotético?

Faço justiça: senti-me em paz com você. Obtive o que pretendi ao seu lado. Mas agora confesso que preciso de mais, além do que pôde me deixar. Preciso de paixão, de emoção e de conhecimento.

A estrela que brilhava em minha constelação se dispersou. O que importa uma estrela em um universo de astros e do infinito?
Entender a infância é ser justo. Saibamos ser justos com nós mesmo.
Adeus.

15 outubro, 2005

Adeus Estrela

Chegamos a um momento muito importante: o seu momento!
Egoísta, desejei você só para mim. Agora entendo que é do universo.

Não me arrependo de ter tentado mais uma vez ficar em Paz.
Não me arrependo de ter provado mais uma vez a Felicidade.
Não me arrependo de ouvir sua voz e de receber suas carícias.

Ajudou-me a não desesperar. Ajudou-me a estancar o sangue de antigas feridas.

Meu corpo agradece.
Minha alma agradece.
Meu ser agradece.

Em um universo de astros, a minha Estrela se dispersou.
Adeus Estrela!

02 outubro, 2005

Agora

Não me aborreço mais aos domingos.
Tenho razões? Talvez...

Talvez porque o céu não é mais cinza
e porque eu não preciso mais pensar em futilidades.

Talvez porque mesmo sem nome
o destino-pessoa me aguarda saudoso.

Talvez porque mesmo endemoninhado
eu tenha que aceitar os deuses e deusas.

Talvez porque após corroer meu tempo
e, esquecer a Felicidade,
eu tenha encontrado a Paz.

26 setembro, 2005

Conflitos e Paz

Entristecido confesso que o fim do meu domingo foi muito emocionante: por acompanhar o cinema real. Esperava que a tristeza estivesse muito distante de mim, entretanto, notei sua presença logo ao entardecer chuvoso. Muitas gotas de água caídas antecediam minhas lágrimas.

Assisti um filme chamado "Hotel Ruanda". Não contive as lágrimas. A guerra pela sobrevivência do humano, pela sobrevivência de vidas negras, me fez imaginar que o país em que vivo, apesar dos problemas sociais, ainda reserva paz. Em se tratando de paz, estive por muitas horas em seus braços, nesta manhã. Estive nos braços da Paz, sim!

É uma dinâmica pessoal, fundamentalmente, contraditória, ou melhor, os resultados concretizaram-se do conflito da paz e guerra, da tristeza e alegria, do prazer e não satisfatório, da força e entrega, e por fim, da vida e morte.
Obrigado história da negritude pela paz.

22 setembro, 2005

Sons de Maria, de Rita. Sons para o meu Coração

Preciso de ti, incessantemente
Preciso dos teus toques em meu peito
Preciso do teu olhar de Paz
Preciso do som de tua voz, vibrante voz em meus ouvidos

Preciso de ti
Preciso de tuas mãos
Preciso de ti, incessantemente

Hoje obtive o novo disco de Maria Rita...
O que mais posso querer de bom agora, após muitos desvios e desencontros afetivos?

Preciso de ti, incessantemente
Preciso dos teus toques em meu peito
Preciso do teu olhar de Paz
Preciso do som de tua voz, vibrante voz em meus ouvidos

Preciso de ti, mesmo que não tenha próximo
Preciso de ti,
Incessantemente.

18 setembro, 2005

Prazeres

Quantos prazeres pude sentir contigo ao meu lado hoje?
Uma enorme Paz os juntou.
Qual luar poderá testemunhar minha entrega em teus braços?
Que as nuvens estejam separando a invejosa Lua de nossos desejos satisfeitos.
Que a Lua não veja meu sorriso quando lembro de teus olhos me fitando.
Que a Lua não me amaldiçoe por notar que estou em paz.
Quantas vezes deverei confirmar a minha satisfação em beijar-te?
A culpa é tua, tua tão grande culpa.
Porque através de teu olhar a Paz me encobre completamente.
Você me tem, agora, para sempre em sua história de Vida.

11 setembro, 2005

Sabores Dominicais



Frutas são todas deliciosas
Melancia, kiwi e bananas
Mas exite uma, uma fruta especial: a pêra.

Humm! Como é gostosa a pêra, aquele pedaço que você se refestela.
Como é gostosa a pêra de boca
Como é gostosa a pêra de bochecha
Como é gostosa a pêra de barriga
Como é gostosa a pêra de pé.

Frutas são todas deliciosas
Melancia, kiwi e bananas
Mas exite uma, uma fruta especial: você.

Comemos frutas todos os dias, mas no domingo
No domingo só nosso
Comemos pêra.

Nova tentativa

Começo uma nova tentativa a favor da vida. A meu favor. Mais saúde mental é o que preciso.

A seiva escorre e não posso sugá-la: outrem o faz. Não a vejo, não a sinto, apenas o que me furta: a essencial vital.
Aguardo socorro, mas ninguém atende.
Aguardo recuperar aos poucos meu ânimo, mas meus esforços ainda são primários.
A essência vital continua sendo furtada. Eu continuo sendo furtado. Furtos e tentativas de furto em sonhos, mesmo em sonhos, são tão concretos que me assustam. Podemos falar do mesmo assunto agora?
Acredito não podermos, pois, ainda, estou farto de mim.

07 setembro, 2005

Estrela Sossego

Poderei eu acreditar que passaremos pela mesma trilha?
Poderei eu acreditar que seremos animados pela cumplicidade?
Poderei eu acreditar em nossos toques afetuosos?
Poderei eu acreditar em nossos sorrisos ingênuos?
Poderei eu acreditar nos olhares coincidentes?
Olhar que me permite criar raízes. Águo-as.

Encontrei razões menos aparentes para crer que não sou menor que pensava. Menor em sentimentos.
Ontem, hoje e amanhã nós nos veremos.
Antes, eu não esperava reecontrar um olhar tão fiel. Antes, eu não desejei estar tão próximo da Estrela.
Hoje, sinto-me mais animado para continuar meu trabalho.
Também tens culpa. Culpo o teu olhar fiel. Culpo a Estrela Sossego.
Troxeste-me a paz.
Recuperei os sentidos menores.
Culpo o teu olhar fiel. Culpo a Estrela Sossego.
Culpa tua, tua tão grande culpa.

03 setembro, 2005

Promessas

Prometo que acabou. Acabou a ateção e o respeito a sua dignidade humana.
E por que? Porque não me mereces.
Ontem estava bem. Reconheço que ao prestar mais atenção nas minhas dificuldades eu estou reforçando o meu carisma, ignorando as idiotices alheias e reprimindo o terror da violência diária.
Espero melhorar!
Estou em um momento muito especial: me tornando hominho.

23 agosto, 2005

Palavras, palavras e palavras

Em um envelope escrevi um bilhete e entreguei-lhe, juntamente com uma folha contendo palavras de G. G. Marques.
No bilhete?
"Palavras palavras palavras palavras palavras palavras palavras palavras palavras palavras palavras"
Mais Mário Faustino
Romance

Para as Festas da Agonia
Vi-te chegar, como havia
Sonhado já que chegasses:
Vinha teu vulto tão belo
Em teu cavalo amarelo,
Anjo meu, que, se me amasses,
Eu teu cavalo, que amarraras
Ao tronco de minha glória
E pastava-me a memória.
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido o peito
Angélico, onde meu leito
Me deixaste então fazer,
Que pude esquecer a cor
Dos olhos da Vida trazer.
Tão celeste foi a Festa,
Tão fino o Anjo, e a Besta
Onde montei tão serena,
Que posso, Damas, dizer-vos
E a vós, Senhores, tão servos
De outra Festa mais terrena –

Não morri de mala sorte,
Morri de amor pela Morte.

21 agosto, 2005

Favores ou desejos

Quando me passaram a vez eu imaginei estar conquistando uma nova amizade. Um novo sorriso, sabe? Nos conhecemos há pouco e nada me fazia acreditar que todo discurso proferido era nobre. Não precisava ser nobre, mas autêntico. Até me convenceu. Mostrou-me os detalhes de uma vida sozinho. O conforto que se pode obter quando você trabalha para si mesmo. Sem pares familiares ao lado. Uma vida, vivida, sozinho.
Ninguém nota, mas a todo momento eu avalio as pessoas, as causas e circunstâncias. Imagino não cometer injustiças, porque não digo o que pensei e penso, facilmente. E não digo para poupar-me confrontos, mas por cautela.
Sinceramente, invejo os canalhas. Eles são mais espontâneos, mentem, subornam, esquecem, flutuam, imaginam, conseguem, pecam, enganam, matam, riem, comem, mordem, choram e, mesmo assim, vivem... ou se isso já não é viver.
Preciso imaginar que por muito tempo eu não vá dormir sozinho, almoçar sozinho, desejar sozinho, cantar sozinho, amar sozinho e viver sozinho...
Estou confuso e, antes de cometer injustiça, aquele sorriso não quero mais.

12 agosto, 2005

Espera

Preocupo-me com minha boca. O que ela pronuncia... o que ela silencia... com a outra boca que deseja. Mas acima da minha preocupação, insignificante, existe alguém muito especial que preocupa-se com seu coração... com seu batimento... com seu ritmo. A segunda-feira não quero lembrar... porque, arduamente, a vivêncio agora.
Não rezarei aos Deus Trinos. Não porque corre o meu sangue saudável... porque a natureza cultural dela será mais forte que desejos ineficazes.
Possuo créditos... poderei cobrá-los!
Emocionado, encerro decretando: as lágrimas mostram o quanto humano pode ser um deus.

09 agosto, 2005

Laços

Estou tomado pelo êxtase arfante da náusea. Tudo me parece grande e perigoso.

Clarice Lispector

08 agosto, 2005

A cor branca da liberdade


Perguntou-me: "Qual sua cor preferida?"
Eu respondi? "Branca."

Sabe o que significa a cor branca? Eu penso na liberdade. No frio gostoso da neve, aquele tapede limpíssimo que a natureza cria a cada inverno...

Liberdade... sou egoísta demais para perdê-la.
Branca... perpétua para poder vestir-me dela.

Aguardo seu retorno.

04 agosto, 2005

Política brasileira

Os presentes conflitos políticos (representativos) que ocorrem na macro-esfera do Poder refletem significativo esforço dos que possuem o poder representativo, e também dos que conseguiram através da ludibriação, em "repartir o bolo" da riqueza nacional. Ou melhor, e ainda, refletem as poucas intenções para com os que necessitam ser atendidos pelas políticas públicas (como se toda a sociedade não merecesse, entretanto, existem grupos menos insatisfeitos, se tivermos como parâmetro único o aspecto econômico).

Logo, não classifico esta luta de poderes como simples esforço em "cortar o mal pela raiz", ou, "vamos limpar o cenário político" etc. Eu a chamo de luta de partidos políticos embaçados. E ainda possui um agravante (que já era esperado): são dissimulados, porque não assumem a incompetência em legislar (em promover leis).
Se os provedores das leis são incompetentes, o que resta àquele(s) grupo(s) que necessita(m) ser atendido(s) pela política pública? E ainda mais, o que a sociedade civil pode esperar de produtivo para o embasamento de suas ações? Um país mal conceituado? Um Poder Legislativo, definitivamente, incompetente?

Querer defende-lo é injustiça. Injustiça para com os eleitores e eleitoras, fiéis depositários de confiança nesses "políticos das leis". Coloquemos "os pratos sujos" na pia! Quem legislava para o rico latifundiário, para o capitalista, para o rico agricultor, para o rico comerciante, fez uma boa campanha nesses últimos 50 anos. Não só permitiu grandes problemas sociais (dívida externa, dívida interna, roubo e desvios de milhões, bilhões, ou até quantias em trilhões da moeda corrente) como assegurou vagas e cadeiras permanentes no Congresso. E fez muito bem! Eu os parabenizo! Parabenizo porque enganar por muito tempo e brincar de legislador certamente não é para gente de boa fé, até mesmo para um "Zé ninguém", pouco ainda para aqueles que pensam representar a grande massa populacional e, em seu exercício legislativo, sentir-se útil e incorruptível! Jamais indicaria generalizações, mas, que legislador pode ser ingênuo e idealista? (Não digo os que promovem o discurso do progresso e do desenvolvimento. Esses existem aos montes.)

Querem saber! Penso que a Legislatura não é para os corruptos, assim como acredito que a legislar não é para o enganador.

Mais perguntas: o que formamos durante os últimos 50 anos? Falazes? Grandes nomes para a apresentação da representatividade política?

Políticos todos os seres humanos são! A Dona Fulana fala para o Seu Sem-Nome que "todo político é corrupto". Não Dona Fulana! A senhora também é política! O que acontece é que a senhora não pode legislar para si e para a sociedade. A senhora precisa dos superpoderosos "representantes políticos"... mas deveria fiscalizar as ações dos seus representantes... a senhora ainda é agente política.

É claro que a democracia deve abarcar, inclusive, os não democratas. Agora, os dissimulados, aqueles que se utilizam das fragilidades das pessoas, das esperanças (que considero fundamental para os que crêem na "vitória do bem") dos que procuram sobreviver sobre tiros, com poucas roupas no corpo, com comida escassa em casa, os sem tudo, não merecem ouvidos ou coros de proteção. O que merecem? Pergunte a Dona Fulana e ao Seu Sem-Nome, que moram no Brasil.

31 julho, 2005

Crenças e saúde


Algumas vezes eu me questiono: quais as razões para que o intelecto seja submetido ao corpo? Loge de fazer considerações maniqueístas, o conflito constante entre o bem e o mal é visível aos olhos dos mais crédulos, e dispensável aos laicos. Quereríamos, nós humanos, depor o corpo e sublimar o intelecto? Precisamos crer em ditos tradicionais para que salvemos nosso corpo das enfermidades causadas, também, e, não indiretamente como alguns acreditam, pelo próprio intelecto?

Reafirmo minha preocupação com meu suporte físico, pois sei das maiores dificuldades que poderia encontrar sem o seu saudável estado.

Conto com minha crença na Medicina moderna (uma Medicina não pertencente apenas aos grandes expoentes científicos, mas as chamadas "medicinas" orientais), e nas seguranças que podem me fornecer, permitindo acreditar no prolongamento de meu suporte físico.

Espero o mesmo para todo humano.

22 julho, 2005

Mário Faustino (1930-1962)


A sua morte trágica em 27 de novembro de 1962, na explosão de um Boeing da Varig, confirmou a previsão de uma frenóloga de Nova York. Morreu aos 32 anos de morte anunciada e pressentida. Toda a sua obra é marcada de presságios, envolta numa aura dramática, tensa, onde a morte paira seu silêncio e vulto.
Apreciar as palavras de Mário Faustino não é um mero esforço. Precisa ser sensitivo para viver o poema. Sobre poesia, sou de poucas palavras. Sobre vive-lo sei o bastante para sonhar. Deixo um poema, dos muitos que transcreverei.

Balatetta
Por não ter esperança de beijá-lo
Eu mesmo, ou de abraçá-lo,
Ou contar-lhe do amor que me corrói
O coração vassalo,
Vai tu, poema, ao meu
Amado, vai ao seu
Quarto dizer-lhe quanto, quanto dói
Amar sem ser amado,
Amar calado.

Beijai-o vós, felizes
Palavras que levíssimas envio
Rumo aos quentes países
De seu corpo dormente, rumo ao frio
Vale onde vaga a alma
Liberta que na calma
Da noite vai sonhando, indiferente
À fonte que, de ardente,
Gera em meu rosto um rio
Resplandescente.

No sonolento ramo
Pousai, palavras minhas, e cantai
Repetindo: eu te amo.

Ele, que dorme, e vai
De reino em reino cavalgando sua
Beleza sob a lua,
Encontrará na voz de vosso canto
Motivo de acalanto;
E dormirá mais longe ainda, enquanto
Eu, carregando só, por esta rua
Difícil, meu pesado
Coração recusado,
Verei, nesse seu sono renovado,
Razão de desencanto
E de mais pranto.

Entretanto cantai, palavras: quem
Vos disse que chorásseis, vós também?

17 julho, 2005

O sentido da Parada


Neste último dia 15 de julho, aconteceu a IV Parada da Diversidade aqui em Campo Grande, onde os gays, as lébicas, as trangêneros e os simpatizantes manifestaram seu desejo: o respeito à diversidade e a garantia dos direitos. Qualidades que são fundamentais para a sobrevivência da vida, para a vida das pessoas.
Acompanhei de perto a realização de um seminário (que antecedeu a Parada) que tratava sobre a cidadania e políticas para atenter ao público jovem homossexual, assim como apoiei a passeata entre as ruas da cidade, sobre um trio elétrico.

Estiveram presentes na organização do seminário, assim como da Parada: a ATMS (Associação das Travestis de Mato Grosso do Sul), o CPJ (Centro de Protagonismo Juvenil), Mulheres de Mãos Dadas e o GELLS (Grupo de Estudos das Livres Sexualidades) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, do qual sou membro há três anos.
A Parada foi realizada com recusos da Secretaria de Cultura, ou seja, com recursos do Estado, graças aos impostos cobrados. Parte do financiamento deu-se pela Coordenação de Prevenção DST/AIDS, da Secretaria Estadual de Saúde.
Essa atividade mostrou como este público (representados pelas intituições acima citadas) empregou os recursos públicos e que sua aplicação resulte no desenvolvimento de ações (manifestação) cotidianas e permanentes, e em seguida, propor políticas públicas para atender o mesmo.

Não encontrei razões para acreditar que o preconceito e as dificuldades passadas por essas instituições, pudessem acabar com o movimento glbt aqui em MS, mas também não acredito que as realizações e os frutos colhidos foram suficientes. Uma das afirmações foi notar novas organizações que surgem e se afirmam no interior do Estado de MS. Fiquei surpreso com empenho de um grupo de liderança em Nova Andradina. Comporam um grupo e fundaram um instituto para atender ao público glbt da cidade. Isto é resultado de encontros e seminários realizados ano antes. É o esforço de pessoas de boa fé, de trabalhadores, de pagadores de impostos como toda a sociedade brasileira, de pessoas de carne e osso...

Quero entender por que é necessário o mês do Orgulho Gay para exigir uma importante característica política: a garantia dos direitos políticos (não apenas os que se tornam lei, mas toda a amplitude de direitos que afirmem a humanidade do ser vivo possuidor de telencéfalo altamente desenvolvido).
Espero que as ações a favor da mulher, da mulher lésbica, da criança, do jovem, do jovem homossexual, do homem, do homem gay, do idoso, do idoso homossexual não fiquem apenas em palavras que contentem a burocracia e a hipocrisia de determinados grupos sociais, mas, sobretudo, que fortaleça a dignidade humana, afinal, o ser humano é digno de ser humano.

12 julho, 2005

Firmamento


Há dias não reparo as nuvens e o horizonte. Na verdade, não compreendo por que algumas inspirações filosóficas devam ser remetidas ao céu.
Francamente, nos dias atuais, compreenderia fracamente o por que das indagações. Sua função será dar suporte à humanidade?
Esvaíram as razões para que pudesse me sentir aflito e ansioso. Dedico-me à profissão.
Espero contar com o auxílio dos Antigos Deus aprisionados em meu firmamento.

10 julho, 2005

Fala


(...)

- Sabes cantar?
- Sei não.
- Sabes ludibriar?
- Sei não.
- Sabes ouvir?
- Sei não.
- Queres cantar?
- Não.
- Queres ouvir?
- Não.
- Queres ludibriar?
- Notas quando trato com harmonia sua pergunta?
- Não.
- Agora sabes o que pretendo.


(...)