22 julho, 2005

Mário Faustino (1930-1962)


A sua morte trágica em 27 de novembro de 1962, na explosão de um Boeing da Varig, confirmou a previsão de uma frenóloga de Nova York. Morreu aos 32 anos de morte anunciada e pressentida. Toda a sua obra é marcada de presságios, envolta numa aura dramática, tensa, onde a morte paira seu silêncio e vulto.
Apreciar as palavras de Mário Faustino não é um mero esforço. Precisa ser sensitivo para viver o poema. Sobre poesia, sou de poucas palavras. Sobre vive-lo sei o bastante para sonhar. Deixo um poema, dos muitos que transcreverei.

Balatetta
Por não ter esperança de beijá-lo
Eu mesmo, ou de abraçá-lo,
Ou contar-lhe do amor que me corrói
O coração vassalo,
Vai tu, poema, ao meu
Amado, vai ao seu
Quarto dizer-lhe quanto, quanto dói
Amar sem ser amado,
Amar calado.

Beijai-o vós, felizes
Palavras que levíssimas envio
Rumo aos quentes países
De seu corpo dormente, rumo ao frio
Vale onde vaga a alma
Liberta que na calma
Da noite vai sonhando, indiferente
À fonte que, de ardente,
Gera em meu rosto um rio
Resplandescente.

No sonolento ramo
Pousai, palavras minhas, e cantai
Repetindo: eu te amo.

Ele, que dorme, e vai
De reino em reino cavalgando sua
Beleza sob a lua,
Encontrará na voz de vosso canto
Motivo de acalanto;
E dormirá mais longe ainda, enquanto
Eu, carregando só, por esta rua
Difícil, meu pesado
Coração recusado,
Verei, nesse seu sono renovado,
Razão de desencanto
E de mais pranto.

Entretanto cantai, palavras: quem
Vos disse que chorásseis, vós também?

Um comentário:

Anônimo disse...

OLÁ LÚ, ADOREI ESTE POEMA, PARABÉNS ELE É MT BONITU MERMU. UMA ABRAÇAUN