19 agosto, 2022

Ser esquecido

Buscava nas entrelinhas do saber algo que pudesse lhe dar sentido de vida. Com o passar dos anos e convivendo com várias pessoas, viu-se em um dilema tortuoso e infortunado: deveria ser lembrado o tempo todo.

No início da compreensão, não relacionou a determinação pretendida para constituir-se em uma lembrança recorrente recuperada continuamente pelas pessoas que conhecia à vaidade que nutria. Nada demais, até compreender que a vaidade está no rol dos vícios e que sua projeção pessoal seguiria outro modo de viver: as virtudes.

Tomou para si a justiça e iniciou o costume de tratar todos a sua volta da mesma maneira. Assim, poderia aos poucos edificar uma imagem cuja presença se tornaria desejosa e respeitável entre todos.

Condicionou um comportamento ansioso e com detalhes de esperança: sempre recebia chamados para encontros, os mais diversos, mesmo os completamente inúteis e os significativamente despropositais. Desse modo, foi se especializando na solidão – apesar de não perceber as raízes se formando em si próprio –, perdendo o interesse em relacionamentos íntimos e se deparando com o esquecimento, tão temido.

Agora, em frente à tela, procura novos sentidos e deixa os antigos textos – os que escreve e os que lê – incompletos para trás. Sempre para trás. Vão se acumulando aos montes. Desorganizou-se, completamente. Desanimou, porém espera – ironicamente – que num futuro próximo possa ser aceito em um afeto, mesmo ignóbil ou até devasso.

18 março, 2022

Fica entre nós

De todas as formas que eu encontrei para lhe chamar atenção a mais incômoda foi o desalento. A não procura. A indiferença. Por que me convidou se não poderia estar presente? O que fez para não se sentar ao meu lado e pela música me enamorar? O motivo é próprio: você deixou de ser a segunda pessoa do singular e se tornou a terceira pessoa do plural.