21 fevereiro, 2011

O menino das pernas lindas


Talvez este escrito não seja verdadeiramente para você. Esteve ausente por algumas horas, necessárias para me deixar arrepiado e desinteressado por segundos. Profissão de fé e desejo. Duas dimensões literalmente problemáticas para um romântico, assim mesmo como eu.
Deve estar dormindo e eu, aqui acordado, sem um resto qualquer de respeito próprio. Urge uma reflexão menos alheia e devidamente pessoal.
Anteontem parecíamos amantes de um passado tão curto. Ontem já não sentia aquela fisgada de fortaleza e hoje, parece-me que o desdém se apossou da intenção: a de ser apenas um consciente. Cônscio de minhas necessidades casuais e muito distante de seus braços.
Ontem mesmo afirmava para nós o meu gosto pela sua pele. Branca e macia, fez-nos imaginar um sexo que ainda não se completou. Ontem a preocupação havia tomado poucos espaços nesse ventre admirado por olhos como os seus: amáveis, ou como queiram afirmar: “profundamente intensos”. Não pretendia saber e entender os outros: antigos, atuais, familiares, próximos e, quem soubesse, nem eu mesmo. Quero o sentido de estar ao seu lado e imaginar situações pacíficas, sem riscos, repletas de paz e conforto. Conforto dado ainda sem a pretensão de suas “mudanças”. E exclamou: “E se eu mudar, você me namoraria?” Tolo, obrigasse a transformar parte estrutural de seu ser: crença, personalidade, anseios, receios, desejos e ideias... Resmungamos no começo quanto ao procurar o seu abrigo me banhou com “água fria”. Inseguro, parti... Horas depois estava aos ouvidos atentos para o que me ofertava. Carinho profundo, cortes nos dizeres devido às ansiedades: minha e sua. Carícias em seus cabelos macios e fitadas despreocupadas aos olhos sinceros.
Bem, conforme foi determinado, prostraríamos ao lado do acaso e esperaríamos boas bênçãos: as menos sagradas possíveis. Admitamos! Nessa órbita nossa rotação está desajustada, estranha e “bizarra”. Entretanto, o festejo dos lençóis e o balé dos lábios entorpeceram a nova fé: em um único amado deus. Aquele que não nos julgará pela ansiedade em tratar nossos sentimentos. Ah! Claro, sem sinalizar para minha constante análise. Há de apontar-se menor e mais ousada censura: “você pensa demais”. E você? Reprima a resposta, aumente a vontade, através da saudade, e não mine a fonte. Fonte de intenções carinhosas e, quando muito íntimos, gratuitas. Resmungou avaliando meu humor: “quer pagar pra ver?”. Sempre tudo em interrogações. Por quê? Deixe-me quieto na ousadia. Já sofri o bastante na última sessão de espera. Muito semelhante àquela sala de espera no passeio interiorano, no qual minha fome insaciada reafirmou gula dentro de mim. Bem dentro de mim e não somente no local indicado pela natureza física.
Esgotam-se os pensamentos mais ardilosos e suspiro sua pele. Para o bem da sua bondade, o que mais sinto vontade é de você se alojar cuidadosamente entre as pernas lindas do menino apaixonado.
Ela ordena minha volta. Quer habitar meu levíssimo sono e tocar, como você não fez ansiosamente, o corpo que ausenta o retorno.
Devolva o estado inquieto e depravado de um dos mais intelectualizados seres da terra onde quem tem dois olhos enxerga o grandioso horror do amor.
Enforque a esperança. Enobreça a vontade. Esqueça o favor. Mude-se para longe daquele horizonte pelo qual só se enxerga a escuridão da teimosia, a perspicácia do intelecto e, por fim, o sentimento calado. Procure não se lembrar de não me dizer que me amou.