28 outubro, 2018

Se eu pudesse


Se eu pudesse eu o abraçaria. Eu o deitaria em meu colo e contaria as mais humoradas histórias fantásticas da humanidade. Todas as mais fantásticas histórias porque eu não pretendia doar a ele o pouco, por mais intenso que seja o infinito da imaginação humana.
Se eu pudesse eu o beijaria as bochechas para que se sentisse mais meu e menos do nada. Afeto deveria ser linguagem entre humanos. Todas as línguas deveria se satisfazer com o afeto, por mais diversas que sejam as culturas.
Se eu pudesse eu o contemplaria. Já não basta o tempo que o universo lhe determinou para um fim e ainda a luta que tenho que travar contra o finito para que a memória sempre esteja frutífera? Não, não basta o menos.
Se eu pudesse eu o viveria. Para que sofrer sozinho se abraçar acalenta o corpo e desperta a alma para a vida?

A cor de Adão

Por pouco a mão divina não recobriu o barro com saliva distinta. Já deveria ser a sétima vez que o Criador tentava modelar a Criatura. Criatura de pouca substância, mas com forma bem aguda e delimitada. A medida deveria ser: a mínima não poderia superar a metade do comprimento do membro inferior e a máxima não ultrapassaria o dobro do membro superior. Entretanto, não queria o Criador deixar a natureza monótona e resolveu implementar exceções e casualidades nos nascimentos futuros.
"Já viu a cor do barro?", interpelou o arcanjo. "Não existe barro branco.", condescendeu o anjo. "E sobre qual peça Ele deverá se ocupar?", demonstrando receio."Rerum novarum.", arranjou o outro. "Devemos aguardar, Ele já se atrapalhou anteriormente."