21 outubro, 2014

Diálogos

O entrevistador questiona o teólogo sobre o simbolismo presente nas religiões. O teólogo responde complementando sobre a perda do mistério, que está banalizando as expressões de crença atuais. E termina: “com a perda do mistério perde-se também o fascínio”. Mais uma das minhas inquietações existenciais que refletirei pelos próximos dias.

10 outubro, 2014

Devir

Ontem nos pareceu tão farto. Quase como um glutão que devora memórias.
Ontem se apresentou tão extenso
quase infinito
dono de um poderio sem virtudes.

Com maquiavélica vontade se apossou de entranhas corporais
expurgou recentes acontecimentos
destronou líderes incorruptíveis
deixou-nos órfãos
fez-me singular e não mais plural.

Ontem
fez de todos nós humanos desafortunados.

Ontem, ah o Ontem!
Com o auxílio do tempo personificado em vontade
legou-nos apenas bons momentos
que
em suas grandezas históricas
desapareceram das intenções.

Ontem
Fez de nós mais comuns que o habitual.

Ontem
eu usei o instante como utilizo de mim mesmo em dúvida
havendo somente uma força que habita em humanos

para não nos esquecermos.

01 outubro, 2014

Queiramo-nos

Entre abocamentos ficamos nós uns nos outros. Inexiste a possibilidade desse fenômeno não acontecer, independentemente das primárias intenções. O interlocutor repassa a intenção ao receptor e ali se firmam sóbrios, quietos e cúmplices. Faltam detalhes, contudo, nos futuros comprometimentos e as pequenas parcelas de cada um se expandem involuntariamente. Deixam-nos inseparáveis de modo que há vontades comuns e sinceras.
Quando cerramos nossos olhos retorna-nos a imagem, do nosso pretendente à boa companhia, exclamando afetos brandos, consistentes. Pedem-nos, assim. Quando cerramos os olhos em dias de luto apontam-nos o reflexo de nossa alegria desvelada em face alheia. Por segundos reconhecemo-nos em uma atmosfera sem paralelos: é como se fôssemos, nós e as boas companhias, um só ser em conexão. Há paz. Hoje, em dias de desvínculos, há prodígios quando nos tornamos nós. Precioso é o franzino feixe que mantém os espíritos unidos por minutos desavergonhados.

Ao cerrarmos nossos olhos e relembrarmos das boas companhias e elas em retrato estiverem ofertando um canto de boca imensamente distante do outro canto de boca são elas mais que boas companhias, são nossas.