03 abril, 2017

Alcance

Desculpe-me, eu passei o dia inteiro evitando pensar e ver suas postagens na rede. Passei horas entre o cansaço de um final de semana intensamente juvenil e as primeiras horas da futura semana em um domingo sem esperança. Já devo ter reclamado ao menos todos os domingos sobre o ar que paira durante esse que é o mais desastroso dos dias. Preciso descansar... Descansar do que? Um dia de folga para quem, para o coração, para a mente, para a vontade de repetir o beijo? Folgado é o domingo, pois bem ele foi criado para isso! Que os diabos me lambam!
Eu sei, eu sei... o que aconteceu já é passado. Eu sei e nunca me privei de experimentar novas relações, mas... não tem porque me envergonhar, não é mesmo? Eu consigo pensar que foi bom para você, enquanto para mim, além de surpreendente, foi muito bom. Eu diria ótimo. Eu sei que haverá garbosos pensamentos sobre o seu desempenho, envolto em um olhar despretensioso, demonstrando agradecimento, mas é que o mais importante agora seria a minha sinceridade. Também não estou me empobrecendo... O ponto não sou eu, necessariamente...
Por que eu escrevo isso? Porque quem já está endurecido de solidão dificilmente se sente íntimo do afeto alheio. É claro que o meu pessimismo amoroso não me levará a nada, mas se ao nada estou imerso e o pensamento positivo não resolveu até hoje, o que me impediria de me esbaldar no pessimismo?
Eu cheguei em casa o mais rápido possível. Ninguém me esperava. Eu acabei me banhando novamente. Esqueci de fechar a porta e acabei nu em frente ao espelho. Por ter saído do contato com o seu corpo e ao enxergar o meu reflexo foi como se eu houvesse me visto pela primeira vez e tomei-me, por hora, de um outro pensamento: a feiura.
Com o passar da idade e das capacidades, as pessoas parecem se certificar de que melhoraram em todos os aspectos: falácia. Elas aprendem, assim como eu tentei lhe ensinar, que o tempo amplia nossas percepções: idiotia! Nem eu acredito nisso. O tempo, por ser o mais poderoso dos deuses, só destrói. Eu e minha pretensão de ser grande num futuro em que o fim é certo, determinado e imponente já me faz pensar em quão ridículo me tornei. O mesmo fim que parece estar a minha certeza sobre meu alcance é o fim que eu mesmo me encontro, ao menos em um dos períodos da jornada diária, todos os dias.
Lá vou eu, novamente, na seara da improdutividade emocional. E não faça essa cara de compreensão e entendimento. Onde estão as suas reações emocionais? A fonte da minha angústia está nas grandes pretensões que eu lancei para que as alcançasse sem muito esperar. E o que eu alcance? Beijos e afetos menos responsáveis. Celibato compulsório por me arriscar em aventuras imorais. Dúvidas sobre o meu real desejo, enquanto me definho dentro do meu quarto, que você nunca visitará.
O mais interessante é que sua beleza não deve se fixar em minha vontade, somente em minha memória. Seu encanto deverá ser de outro e não meu, afinal não ensino a beijar e nem a surpreender as pessoas. É como se você soubesse que eu iria ao seu encontro e eu, magicamente encantado, me permiti reviver essa experiência: a do beijo alheio ofertado a mim, sem minha iniciativa.
Antes que você se vá, saiba que o nosso tempo de intimidade foi, profundamente, satisfatório e doce para mim. Inexistem explicações a partir de agora, concordo...

Quando repousar, desejo que durma tão bem, como se pudesse caminhar sobre a maciez das nuvens e acordar em volto de caridade.