01 junho, 2015

É

Não é a falta de seu corpo que lamento.
Reivindicaria a quem?
É dos sorrisos, comuns a nós, que foram extraviados em noites quaisquer.

Não é a falta do som de suas palavras que suplico.
Ouviriam murmúrios meus? Quem?
É da conexão inegável existente entre nossos olhares.

Não é a falta dos seus comentários sobre o perfume de minha roupa.
Todas as águas do mundo poderiam lavá-la?
É do cuidado que tem quando repara em mim.

Não é a falta de um suporte que seu braço trazia a minha mão e seu ombro a minha testa.
Qual cama lhe aqueceria melhor após diversão noturna?
É do afeto que nós teimamos em negar um ao outro em silêncio.

Não é a falta de seus queixumes sobre mim e sua vida modesta.
Qual comprimido mágico recuperaria tal braveza?
É do que dividíamos para acalentar nossas almas.

Não é a falta de seus lábios permitindo que eu os mordesse.
Houve saída para o meu humor?
É do sarcasmo que nos envolvia inebriadamente durante a madrugada.

Nunca senti a falta de nossos encontros semanais, propositais.
Que deus retrocederia o grande relógio universal?
É da memória que se apagará com o futuro, por fim.