15 março, 2014

Temor

Não havia notado o terror lá fora que nos cerca. Em um nada de instante nos tornamos suspensos de nós mesmos. É meu caro amigo... a facilidade de movimentos corporais que existia em nossas pretensões, propulsora de escolhas individuais, na história da humanidade nunca existiu de fato.
Nos tempos escuros da Idade Média o translado era uma aventura: havia monstros, seres sobrenaturais, espíritos andantes, seres mágicos e tenebrosos. Fazer a mudança de uma cidade para a outra era um desafio assustador para todos os que se amavam. "Cuidado meu filho!" tornou-se a expressão universal do cuidado materno. Espalhou-se para os confins, até mesmo nas ilhas menos povoadas. Onde quer que estejamos seremos obstáculos para outros. Há sempre alguém por todos os lados. Até em cima, em aeronaves, e embaixo em caixões. Alguns, polidos, mesmo sem cumprimentos respeitosos, jamais visualizarão nossas faces. Somos eternos desconhecidos. Restam-nos poucas virtudes, mas a mais necessária no trânsito de humanos é a coragem. Como eu pensei em lhe ver, meu nobre amigo, no afeto mais confortável e seguro para que se lembrasse do ventre que lhe permitiu existir. Como eu senti no despertar de segundos de horror que você viveu a mesma insegurança de estar em uma realidade tão imensa, capaz de nos trazer as imagens do terror antigas.
Entre as virtudes cardinais tomistas quero lhe oferecer, meu herói, a fortaleza. É ela que nos assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem. Ainda irei rever o movimento afetuoso dos seus lábios demonstrando a superação do mal.