16 novembro, 2009

Desencantamento

Queria ter podido dizer que meu sentimento não é uma única paixão: é sentimento maior, fortalecido; hoje mesmo medroso, conscientemente vivo.
Mesmo juvenil...
Hoje você riu para mim... eu notei.
Por enquanto, esqueça o rito e só pertença a nós. Sós. Somente!
Mais uma vez o momento o retirou de meu desejo: o afeto para você se enamorar.
Você vai gostar do meu toque; adorará meu gosto; desejará meu olhar; reivindicará meu suor; perder-se-á em meu colo; vivificará nosso abraço, a fim de amar.
Quer alguém para entender o seu universo?
Eu não exigirei recompensa, apenas o que iria me entregar. Seja quando for, ou nunca.
Sabemos por certo que fomos um para o outro em um bom tempo: o periodo criador do meu amor.
Ah! Que bom! Até que um dia eu soube o que é amar.

15 novembro, 2009

Retorno


No começo dos anos 90, um jovem rapaz apaixonado por estórias incompletas se apresenta a um cinema, era sua primeira ida. Não menos incompleto como suas estórias prediletas, alcança a tribuna da bilheteria e reclama um ingresso para a sessão. Logo que consegue direciona-se para as poltronas, sem sacos de pipocas e refrigerante. Sozinho.

Pela manhã, imaginavam sua alegria para os comentários e, por pouquíssimo tempo entre o intervalo do banheiro e a saída para a escola, nenhuma palavra de satisfação foi ouvida. Nem mesmo o nome do filme comentou. Os argumentos e idéias mais brilhantes estariam por vir, não naquele momento nem naquela situação doméstica, afinal, o maior de todos os desejos humanos, para aquele jovem rapaz, era a solidão de um apartamento de médio tamanho no centro da capital. Não se sabe se seria a única sensação, mas a mais evidente, certamente.

Após chegar da escola, ainda com o mesmo semblante, o rapaz se queixa do clima: - Aqui faz um calor desgraçado! Disse à mãe, ainda preocupada com o preparo do almoço. Ela acena com a cabeça afirmativamente tentando concordar e logo que desocupasse do fogo iria chamar sua atenção e escutar um comentário, entretanto esperava demais daquele que um dia chamou de “filho querido”.

Satisfeito pela comilança, o rapaz lançou-se ao quintal para mais uma vez imaginar situações de desconforto com amigos e pessoas imaginárias. Elas não se comunicavam, ele não queria ouvi-las, na verdade. Tinha uma espiritualidade duvidosa, desde sempre. Achava graça de alguns fatos pouco hilariantes. Chegou até a rir quando soube de um suicídio mal concluído. Não, o jovem rapaz não era um canalha, nem uma pessoa de difícil convívio. Pelo contrário, chamava sempre os amigos para uma rodada de suco e biscoitos, quando se sentia muito ansioso. Era de muitas palavras alegres. Quando criança procurava ler todos os letreiros que encontrava pelo caminho de volta à casa. Ainda não adulto procurou esclarecer alguns significados, palavras estrangeiras e símbolos universais. Concordava consigo mesmo ao ler um livro, mesmo que fossem apenas as primeiras páginas. Lia pouco, contudo. A inteligência lhe foi grata, porém. Passou mais um dia em sua vida. “O tempo – dizia o rapaz – é a nossa mais deliciosa criação.”

01 novembro, 2009

Pegues

Faça isso sim
encantes
provoques a cada foto
Em cada retrato
Pois sendo ocular
me exergo maior e mais
Mais e mais... teu.

Amante de tua boca
sempre
Língua solta
fala precisa
Olhos contrários
Parcela de Um
Animado em dois.

Não me digas!
Ou melhor, digas sim!
declares

Ao menos uma vez
novamente só
que o nosso desejo
é vivo.

Mostres!
Eu ordeno... mostres!
Ordenes a mim, por favor
agora sabes
que meu peito é teu.

Derrames o teu suor
chames
chames o calor que há

Acertes o foco
Já não é mais um instrumento
é tão somente
o teu olhar para o meu.

Pegues
Pegues novamente

Mas pegues.
E não se esqueças
Somos nós.

Declames
Declames o teu desejo
Usando o que de maior valor
é meu: o teu olhar.