Raro ouvir uma declaração sobre a terra, talvez o poeta que
“nasceu pra passarinho” seja o único representante literário de defesas como essa. Mas
por que pensar que a terra seja o elemento inútil? Eu vou procurar decifrar
essa matéria, pretensiosamente.
Os primeiros interlocutores me disseram que a terra é
desimportante porque está abaixo de nosso horizonte visual. Como não se fez o
humano os olhos no pé, então é mais certo crer que não há importância o baixo.
Depois, o segundo grupo tentou me convencer de que a terra é
suja e por essa razão não haveria necessidade de apreciá-la. Relutei em querer
desaprovar o argumento, mas ele existe.
Percorrendo outras mentalidades, o terceiro grupo pretendeu
me surpreender afirmando que a terra é maleável e sem forma definida. Com o
passar dos anos as dunas, por exemplo, não permanecem na mesma dimensão. E constantemente
se estendem voluptuosamente pelas regiões distantes nos braços do vento hiperativo.
Inconformado em encontrar apenas um, mas letal defensor do
elemento terra, ainda me encontrei a memorizar a quarta inconformada opinião: a
terra nos é inútil por causa de um aroma que não remete a ninguém e ao nada. Não é possível classificá-la
pelo simples entender: quem ao rolar na terra, mesmo por diversão, após se
levantar não procura imediatamente a limpeza. Quem se importaria a permanecer
exalando o inexistente aroma de terra? Por que se é possível quase
imediatamente limpar as partes do organismo e ficar cheiroso após uma ducha bem
ofertada?
Mesmo desanimado continuei advogando uma paciência para
receber delicadas palavras que pudessem acalmar minha angústia pela defesa da
terra. E quanto menos esperava havia me deparado, novamente, com mais uma
desonrosa situação contra a terra. O quinto grupo declarou com sorrisos na face
de que a terra é muda. Conforme vão se movendo os seres superiores, ela, a
terra, não expressa sons. Palidez sonora seria uma benção. Não, ela é fatidicamente
muda e sem mais.
Gozado, pareciam sentenças dotadas da mais pura verificação
científica. Comprovações inquestionáveis. Decisões unânimes.
Não satisfeito decidi me importar com o mais nobre dos seres
superficiais, o humano, e por bem-aventurança descobri que é a terra, mesmo sem
ser alvo dos olhos, que sobre ela as pessoas se encontram; que por mais insosso seja seu
sabor é sobre ela que as pessoas demoram horas apreciando beijos com
apimentadas mordidinhas; que além de ser volúvel é sobre ela que as casas
rígidas são construídas e podem abrigar os mais afetuosos e sinceros abraços
apertados; que por mais desorvalhada seja sua fragrância em mais ínfima espessura, é nela que o puro verde das plantações aplana os fogosos amantes e,
por fim, se por menor parcela de sentido seus ruídos não embalam ritmos, é
somente por ela que se contam os passos dados a dois em um frenesi de
movimentos inconstantes.
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