11 novembro, 2014

Ela se chama Adriana

Chore, chore menino! Fará bem ao menos por um tempo mesmo com o peito ardendo. Mesmo que a duração tente apagar aquele sorriso mágico que nunca lhe foi negado. Mesmo que os momentos que estiveram juntos foram determinados pelos dedos das mãos, contáveis, singulares, laborais e dolorosos. Ah, claro meu menino, aqueles cabelos recheados de um devir com ventos adornadores que se completavam em uma tez escurecida pelos sóis. Não meu menino, não! Era um momento diferente. Lembro que você tentou estender a mão e segurá-la muito, muito forte. Eram mãos de menino, mocinho, não era nem um quase homem. Eu conheço essa dor meu menino. É a maldita ausência. Ela desintegrou as liberdades que teriam. Maltrata, não? Pois ainda vivo, meu menino, a herança é a imaginação. Poderiam ter caminhado ao menos alguns dias da semana num parque da cidade. Poderiam, ao menos, serem vistos juntos em corredores de um cinema. Você gosta disso, não é menino? Poderiam ter sido irmãos. E agora meu menino, o que você poderá ser sem esse pedaço fundamental em seu peito? E agora meu moleque que a cada dia abate sua alegria porque já lhe devastaram por demais o ser. Não meu menino, ainda há tempo! Não mais para aquela parte essencial que lhe tiraram, mas para o seu tempo. Eu sei meu bom menino, ainda reclama a juventude como se o relógio apontasse para o passado e você ainda pudesse esperar por ela.


Ela se foi há muitos anos, eu sei. Inexistem palavras agora num presente sem companhia. Eu também me pergunto meu menino, como existem pessoas egoístas no nosso mundo, pois foi uma delas que determinou o fim do respirar da sua outra parte. Silenciou-a. Difícil é falar do vazio, sabemos. Fale o nome dela e tente pensar naquele abraço mais doce que já recebeu em sua vida. Era o abraço do amor fraternal. Amor tão distante hoje de nós. Force com vontade e desejo para manter acessa a imagem daquele sorriso ingênuo e verdadeiro. O sorriso de Adriana cujo sobrenome não importa mais. Era o sorriso de Adriana. Era... Vá meu menino, descanse um pouco, mesmo nessa vida de individualidades e desconfortos. Proteja a sua mente para dar esse tributo a Adriana. E, por fim, não se desculpe por não conseguir mais impedir que seus olhos fiquem avermelhados, meu menino, a ausência por milênios nos deixou sem apetite.

Nenhum comentário: