04 setembro, 2012

Por fim


Já sabemos que tudo que tenha vida um dia se desfaz. Desfaz-se a forma e a essência. Fica, contudo, a lembrança: de ser presença sincera, de ter conquistado felicidades, de superar em conjunto as limitações e violências. Já se sabe, também, do fim inesperado. Das incapacidades de fazer reviver alguém em nosso cotidiano. Mas o pior é enterrar alguém tão próximo ainda vivo, mesmo sem essência. Sufocar com terra ou até mesmo queimar momentos, imagens, auxílio e cumplicidade. O fim não pode ser em si mesmo, mas no outro. Arde demasiadamente no peito de quem ouviu os rumores maternos e se compadeceu. Se a mão atinge não foi em vão: porque lá havia o último fragmento de amor. “A mão foi minha, o gesto foi teu.” Medéia

25 junho, 2012

Mais uma noite


Ontem o coração me deu mais uma batida
Talvez com menos proezas
Certo de que vou me iludir mais uma vez.

Todo dia me parece insólito
E já estou acordado para ele
Envolvo-me em vazio.

Eis um suspiro
Dado entre as pequeníssimas graças
Mais humanas, mesmo não podendo me servir.

O passado é demasiadamente sufocante
Porque houve tentações
E as mesmas não se aniquilam.

Os humores são diversificados
A brisa para alimenta-los não passa pelas janelas do meu quarto
Pois bloqueadas estão para acomodarem a escuridão.

Ninguém dá atenção aos pormenores cotidianos
Citadino nenhum percebe o mal em si dentro de um quarto
Ali deve haver sossego e há farsa.

E escurece novamente
As ideias revolucionam o descanso
O anseio me desfaz.


29 maio, 2012

Gula

E se o beijo é dado sem propósito não pareceria com aquele que foi permitido ontem.
Eram 23 horas e o hálito combinava. Vontade era de proporcionar mais vontade, bem ali, muito próximos.
As palavras inquietas não podem ser presas por tempo qualquer. Basta falar que será ouvido. Pois se ouve com o coração e a mente limpos.
Bagunça está quando há beijos intercalados com sorrisos: misturasse uma inquietação em possuir mais exemplares com desejo de permanecer daquele modo confortável.
O beijo fogoso acontece quando a gula é um devaneio concordado entre ambos.
Faz-se companheirismo em vidas, outrora tão distantes. Espera-se, brevemente, mais.



07 maio, 2012

Ilusão


Foi um dia de encanto, julgo assim. Não me pertencia a tarde, sobretudo a lua cheia que nos banhou. Senti forte sensação de esperança e nos tivemos. Lá estávamos cúmplices e distraídos. Cooperamos nas palavras, gentis palavras. Sorríamos conforme o movimento do corpo nos desinibia e os instrumentos conduziam. Havia inúmeras pessoas, mas não as notei.
Foram as frutas, as de dentro em forma de suco e as usadas como luvas sobre o corpo, acalmando-o por meu excesso anterior.
Fomos bobos, olhares cruzados para uma sentença de final qualquer.
Senti a felicidade por estar ali. Vivi! Totalmente pertencente a mim. Sabendo que por um determinado tempo seria de minha vista. A aflição era ouvir: “Preciso ir embora”. É perene esta sensação quando juntos.
Conversamos como responsáveis pelos nossos destinos apesar da timidez. O sorriso ofertado era suficiente, demonstrando sinceridade. Alento. E o medo sendo acalmado em mim por tentar sufoca-lo, contudo.
Ouvia poucos ruídos ao meu redor. Existiu um círculo a nossa volta cuja pretensão só se direcionou para a unicidade, para quem me conduzia. Mesmo assim meu coração não palpitou aceleradamente. Por que não? Deve ser porque criamos história.
Brincamos de acordo com o ritmo do ambiente, sobre os trilhos de uma infância que para mim e para você não retornarão. Nunca fomos crianças juntos para poder permitir um presente encantador. Unicamente de minha parte, talvez. Deve ser pela maciez de sua voz, pelo descompasso charmoso dos seus gestos, pela incompreensão de não viver vontades comigo que vivo esta ilusão. Acabamos como o usual. Uma cama saudosa, um corpo solitário e uma grandeza que se intimida por pensamentos existencialistas. Já está ausente.
Comprometer-me-ei com esta confissão sabendo, por fim, que certo dia nós não mais dispostos estaremos para um dócil passeio, apesar de cooperar com seu pedido de espera. O agora foi tornado memória e existirão noites que a solidão será desavergonhadamente íntima.


24 abril, 2012

Entrega

teve um dia
certo momento noturno
que fiz meu declarar
contudo, não esperava a inércia
queria ação
vontade
libido
entrega
e não vieram
queria que a entrega e a condução
fossem para mim
como um guia experiente
era só se entregar
seria com jeitinho doce
sem pressa de ser amado
sem inibição de ambos
mas com impulsos afetivos
pelos detalhes mais excitáveis do corpo
pelo beijo com vontade de saudade na despedida
sem receios
sem neuroses
ausente ciúme
entregar-se
ah a entrega!
por fim, não veio

16 abril, 2012

Partida

Vou me desfazer de mim pelo todo que pensei ser.
Esquecerei, contudo, a indisposição

A ausência é natural
como tentar lembrar de uma memória valorosa.
Como estender os braços às paixões flutuantes.

Não volterei a ser como estou.
É sabido.
Sentirei novos impulsos.
Conquistarei partes intocadas.
Iniciarei apenas se me confortar com sua permissão.
"Está tudo bem!"

Terei outra face, outro espírito.
Mesmo sendo tentativa
irei.
Quero um preto e branco
para que em chumbo e cobre
realize a mim.
E comigo só.
 Kain Hallis - Iluminação Solitária

15 abril, 2012

Escolhas

Não esteve lá
havia escolha
escorreu em meu rosto
vermelho rubro de minha descrença
senti como uma desconexão
o mesmo desabor de ontem.

Num momento sinto sua pele
um olhar me provocando
noutro um vazio inenarrável.

Só precisava parar de pensar
no quanto um abraço seu me recomporia
traria fartura
traria cores e, por fim,
vida.


Fizeram poucos anúncios
deve ser por este motivo
que ainda não me desfiz todo.

Pareciam lágrimas
as mesmas que caem quando está ali
longe
pareciam.
Instante despido
ausente a razão.

Por que se aproxima?
Por que?



09 abril, 2012

Olhe


Repare o desejo
Aquele que provoca o mais profundo do seu peito
É este mesmo o executor de um sentido
Talvez o frio e o por que não o menos humano
Deveria ter calado quando permitido
Poderia eu ter me esquecido de sua face
Permitiria os Céus esquecer sem muita dor?
Quero mesmo é descansar em um abraço pedido
O mesmo, embora, fácil, concedido.
Daquele sem jeito recolhido
Sem palavras e destemido
Eu havia fracassado.
Fracasso lidera minhas intenções
Não se ludibriam as emoções
Deveras inquietas e maltrapilhas
Sem vontade se fez o meu clamor
Agora só me restam as verdades
Para o meu puro e intocado coração admirar
Sem precedentes esqueci-me dos detalhes
Com costumes revirei-me no cobertor
Frio que antes não consumia
Na mais privada das certezas me terá
Espero ter ao menos um aconchego
O mesmo que sentirá aquele que se pronuncia ser o seu amor

15 março, 2012

Protesto


Vim por este caminho para um anúncio: nunca mais quero brincar de carrossel! Isso é uma sentença que jamais poderá ser desfeita.
É nele que se acompanha o movimento de um mundo cuja realidade não é totalmente prazerosa, e sim enganadora. Outrora, poderia ser um encanto, hoje, contudo, faltam-me ânimo e vitalidade.
Cavalinhos de madeira já adestrados!? Como assim? Qual graça teria em cavalgar ausente instabilidade e vento oriundo de uma única direção? Inexistente autonomia natural? Pois é, nobres, o movimento ocorre sem muitos contornos do lado de cá e ainda o suporte não proporciona aventura do outro lado.
Havia dito antes da maturidade da existência de dois desafios: o primeiro é o mais vil, já o segundo...
No início era fácil desdenhar o finito. Jovem demais para concorrer com a força da natureza, despedi-me do fim sentenciando que só deveria ultrapassar o físico após ter escrito uma obra literária, aprendido outro idioma latino e visitado uma das Maravilhas do Mundo Antigo. Claro que a Morte não engoliu essa! Já o fim, deveria caminhar solitário, buscando um conforto que eu nutriria por mim mesmo, sem auxílio externo, sem companhia, sem xícaras matutinas. Há, ademais, noites dolorosas preenchidas pelo desafeto. Ainda hoje! Engolia-se, também com as lágrimas, a inexperiência do toque, a fraqueza da esperança e, principalmente, o desconforto do devir.
Domesticam com facilidade extremamente humana os cavalos. Estes já são estéreis assim como os protagonistas.
Criou-se uma lógica apenas para o conforto pessoal esquecendo-se que a juventude vive para si, apoiada no outro. Desejam-me menos que ontem por insegurança, apenas.
Havia afirmado: basta de acompanhar a realidade com palavras pessimistas! Acontece, porém, o acaso distante do misticismo. Crenças inválidas. Surge o concreto, bem ali.
Reafirmo minha indignação com o carrossel. O mundo que enxergo já não agrupa mais inseguranças. Estou bravamente incomodado com os cavalos de madeira, com as cores desbotadas do cenário de um parque que não possui mais diversão.

12 março, 2012

Uma conversa entre amigos

Eita que o coração bateu mesmo! Bateu bem gostoso com gostinho de açaí. Foi um chamado e consegui novamente falar com a Esperança. Veio a mim toda vaidosa. Em sua face uma certa vontade de me testar. Comentávamos sobre uma vida qualquer: a minha, claro. Nem um pouco ressabiada, dava-me motivos para acreditar em nós: eu e você. A aproximação foi inevitável. Somos jovens! Demorou muito e aquela outra vontade não veio. Ele não veio! Parecia-me, contudo, nova oportunidade. Arrisquei-me, juntamente com os bons comentários da Esperança. Certo momento, ele nem ousou enviar mensagens e responder as chamadas. Soubemos que esteve ocupado o final de semana todo. Tentamos, nós dois: a Esperança e eu, compreender. Dois solidários são. Ela, mesmo charmosa, entregue à poesia para me encantar, conquistou grande porção do meu peito. Declarei-me entregue. Prometeu a mim sorrisos gratuitos, apertões na cintura, colo morno, gentileza, gestos espevitados no cabelo e, acredite, beijos quentes, fogosos e brincalhões.
Ela começou a engasgar durante o discurso logo com a escuridão noturna. Imaginei que fosse por causa do clima seco. Após meu comentário de preocupação, lá estava revigorada para mais um argumento sólido a favor de si mesma. Vai querer ouvir sempre as palavras com o peito vazio, receptor de bons elogios. Quando desanimado, ele será sua melhor companhia nestes tempos tão difíceis para relacionamento. Que nada! O que contará serão os futuros momentos juntinhos. Nada de ansiedade: já é seu! Eu só pude acreditar.
Novamente engasgou e dessa vez o seu semblante transformou! Faz horas e ele não chega! Não posso esperar por mais tempo! Sempre se atrasa fazendo-me perder outras companhias. Olhe para você, está tenebroso. Olhos pálidos, sem vontade. Para mim já não serviria nem como amante. Era tempo de você conquistar suas emoções sozinho! Porque você, desde os seus 13 anos, não sustentava mais minha imagem, nem para os mais próximos amigos que possuía. Ora essa! Deve ser por isso não poder progredir nas questões que pouco me interessam. Há inúmeras dificuldades e o queridinho do mundo todo não aparece! Onde pensa estar? Por certo muito distante de nós! Valha-me a mim mesma: quem é o humano nesta conversa. Deixou-me.
Só, fiquei a ver folhas dançando em minha frente sem o pouco do perfume que havia poucos instantes em sua presença. Soube, como uma lição a ser aprendida, duas verdades reservadas a mim: 1. Sou humano, não posso ocupar tanto tempo com emoções tão nobres como a Esperança. Ela mesma me disse. 2. Há quatro anos ele não vem: o Amor. Eu havia dito que se arriscar era necessário, assim o fiz. Vou continuar dessa forma, felizmente, sem pestanejar. Estava tudo em minha mente.

04 março, 2012

Sem palavras


Completava mais um final de verão e as oportunidades se esvaiam. Muitos rumores sobre meu presente concatenavam com o desespero de ser um adulto. Cronos adiciona adultos desesperados pela solidez da paciência. Talvez seja esta a única e verdadeira amiga da humanidade, pois, inquestionavelmente, é virtude e a procura por toda a existência.
Motivos excediam o intelecto. Compreendia os resmungos e as repetições alheias. Quase inexistiam novas companhias interessantes. Contudo, lá estava posto, invariavelmente, humano. De que maneira torpe me admiravam, os inabundantes fiéis, humano? A enganosa pretensão está na alternativa assinalada: “estou num país democrático, logo, falo o que, cônscio, projeto: sou humanista!” Para que teimar consigo? Porque se dobrar aos comentários dos fiéis para se indispor com sua própria crença. Lê-se, no fundo, carente. Pretensioso jamais! Carente assim será por toda possibilidade de respirar.
A ele faltavam palavras resultantes de um processo criativo, fortemente marcado por uma dor que não se reza pela inexistência de alguém querido. Estando, eu, no presente ou na ilusão do devir, confundir-me-ia com a identidade do outro: aquele que não pensou tanto antes de pronunciar uma injustiça. Esta que revive a cada instante a morte, e por ser sádica, ainda sorri ao enxergar os vermes comerem, com toque voraz de humor, sua miséria em forma de corpo.
Quisera ter nascido sem o berço de ouro da perspicácia e abandonado o conforto universal da carência afetivo-amorosa.