07 maio, 2012

Ilusão


Foi um dia de encanto, julgo assim. Não me pertencia a tarde, sobretudo a lua cheia que nos banhou. Senti forte sensação de esperança e nos tivemos. Lá estávamos cúmplices e distraídos. Cooperamos nas palavras, gentis palavras. Sorríamos conforme o movimento do corpo nos desinibia e os instrumentos conduziam. Havia inúmeras pessoas, mas não as notei.
Foram as frutas, as de dentro em forma de suco e as usadas como luvas sobre o corpo, acalmando-o por meu excesso anterior.
Fomos bobos, olhares cruzados para uma sentença de final qualquer.
Senti a felicidade por estar ali. Vivi! Totalmente pertencente a mim. Sabendo que por um determinado tempo seria de minha vista. A aflição era ouvir: “Preciso ir embora”. É perene esta sensação quando juntos.
Conversamos como responsáveis pelos nossos destinos apesar da timidez. O sorriso ofertado era suficiente, demonstrando sinceridade. Alento. E o medo sendo acalmado em mim por tentar sufoca-lo, contudo.
Ouvia poucos ruídos ao meu redor. Existiu um círculo a nossa volta cuja pretensão só se direcionou para a unicidade, para quem me conduzia. Mesmo assim meu coração não palpitou aceleradamente. Por que não? Deve ser porque criamos história.
Brincamos de acordo com o ritmo do ambiente, sobre os trilhos de uma infância que para mim e para você não retornarão. Nunca fomos crianças juntos para poder permitir um presente encantador. Unicamente de minha parte, talvez. Deve ser pela maciez de sua voz, pelo descompasso charmoso dos seus gestos, pela incompreensão de não viver vontades comigo que vivo esta ilusão. Acabamos como o usual. Uma cama saudosa, um corpo solitário e uma grandeza que se intimida por pensamentos existencialistas. Já está ausente.
Comprometer-me-ei com esta confissão sabendo, por fim, que certo dia nós não mais dispostos estaremos para um dócil passeio, apesar de cooperar com seu pedido de espera. O agora foi tornado memória e existirão noites que a solidão será desavergonhadamente íntima.


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