Criei minha razão em si.
André Luiz Martins
Ele não era arrogante. Possuía uma
pose de mandão, sisudo, claro! Pouco expressava dizeres de compaixão,
entretanto. Somente sorria quando socialmente estimulado. Não havia dor, muito
menos desprezo, aparentemente. Apenas ele em si. Um ele que mesmo em derivadas afetuosamente
determinadas passou a ser entendido como mole, e, por diversos aquedutos diários
a sua transposição se dava de maneira sólita.
Resmungão dos resmungos dos
outros: “Você não deve falar assim, as coisas mudam sempre e quando nós menos
aguardamos!”; “Já deveria ter notado que sua ideia antes não condiz com o seu
sentimento hodierno!” e completava “O tempo é a nossa mais deliciosa criação.” Admirava
a sincronia do universo. Pobre homem!
O erro estava em outras partes de
humanidade que eram reduzidas, enfraquecidas, desonrosas, desenxabidas e
frágeis. Altivo, belo aos olhos alheios, ele assim era enxergado. Desejavam-no
porque ele sabia provocar. Esse sempre foi o seu maior destaque:
voluptuosidade. Não era para menos! Tornava-se mais individualista a cada
elogio que era desferido em seus ouvidos: “Belo!”, “Intenso!”, “Esperto!”, “Humorado!”
habitavam a jornada auditiva do moço.
E o infortúnio aconteceu, logo
que completara 1/3 de vida: amargou-se para os afetos amorosos. A secura passou
a percorrer suas artérias. Os órgãos pararam por completo. Surgiu o vazio e com
ele o pânico. Imperceptível durante a gestação, mas anos depois voraz. Não se
comprometia. Oferecia o silêncio envolto em um sorriso sedutor cujo conteúdo
expandia-se pelo despropósito.
Nesse instante a dinâmica em vida
tornou-se sem brilho, contraste e cor. Os reguladores se dispersaram. A vaidade
se manteve, mesmo a míngua. O rubro cobriu seu leito sem pestanejar. Os diálogos
com os amigos eram mais sórdidos. Pessoa alguma representava vontade. O desejo
se tornou viral. A casualidade apenas nutria seu desespero ao repousar às
noites. Noites insuportavelmente amargas. Alimentava, ainda, as mágoas
passadas. “Por que!?” repetia freneticamente, às vezes verbalizava. Comungou histórias
tristes de companheiros e mesmo assim continuou solitário, faminto por
aconchegos e sórdido. Acumulava dizeres e mais e mais elogios. Sua flacidez era
interior, pois, ao percorrer os paralelepípedos do desgosto, percebeu que algo
o incomodava. Refletiu! E, através de esforços pessoais inimagináveis para
pessoas de boa fé, tentou reconhecer mais afetos. Mais uma vez, e mais e mais e
mais vezes. Tentava! E, retornando para o antigo, reafirmava a dor e
cristalizava um átrio. Parado, o órgão não conseguia movimentar o líquido que o
sustentava. Depois, tentou novamente e esse ciclo de abre-e-fecha emocional o
entediou. Cansado, defronte a possibilidade de encantamento como aquele lá da
antiga possibilidade desfeita, cegou-se emocionalmente e nem notou. Em dada noite, atendeu
ao chamado do envolvido, respirando calmamente e com voz de quem não quer
apunhalar se despediu. Colocou-se novamente a caminho do destruidor de
histórias em plural: abraçou o tempo.
Enfurecido, escreveu-me dias atrás: “Revivi nesses últimos meses, a minha maneira, o que fui há anos graças a sua frouxidão. Eu preciso me desfazer desse vazio. Alcance-me, por gentileza.”
Enfurecido, escreveu-me dias atrás: “Revivi nesses últimos meses, a minha maneira, o que fui há anos graças a sua frouxidão. Eu preciso me desfazer desse vazio. Alcance-me, por gentileza.”
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