10 janeiro, 2017

O meu rosa para o seu azul

Particularmente, penso pouco no meu presente. Imagino sempre caminhando por entre névoas humanas, infelizmente. Mas hoje foi incomum. Digo incomum porque raramente me surpreendo e hoje, como não esperei, surpreendi-me com algo humano. Não pense que deva ser humanos vivos: pelo contrário! Arrepiei-me com os mortos. Delacroix, Degas, Picasso, Di Cavalcanti, Manet e, claro, Renoir.
Os humanos vivos são sempre previsíveis, mas não os quero em meu primeiro plano, justamente por ter me reencontrado nas obras de arte mais vivas que já visitei, até agora. São telas e esculturas (uma helênica, outra romana e duas chinesas) que povoavam o meu imaginário artístico incompleto e reviveram novas ideias e impulsionaram outras reflexões. Há mais dúvidas agora e elas se apresentam a mim como aliadas, dóceis e instigantes. Quero mais, voltei a querer mais! Ter mais sede do que se pode sentir diariamente. Desejo profundamente me embalar diretamente no imaginário das artes plásticas para poder voltar a respirar. Poder saciar minha dúvida sobre quais obstáculos antropológicos foram ultrapassados e vencidos. Venci o medo? Creio que não, mas já o reconheço aqui dentro de mim. Medo que me impede de querer voar mais distante e alcançar algumas sensações de estar em frente a uma estátua helênica ou até mesmo vivenciar a contemplação de poder mensurar os centímetros de uma estátua ameríndia de uma divindade de dez mil anos. Essa felicidade, momentânea, que vivenciei ao lado de humanos vivos a contemplar a memória de humanos mortos, me reanimou a definir novos traços e experiências: uma é não se desenxabir frente à possibilidade de encontrar o passado. Sobre o futuro não quero me ater mais. Ater-me-ei ao meu presente. Vem comigo?

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