17 fevereiro, 2016

Bata

Bata como se sua força não fosse finita
Estrangule a mais degradante parte minha
A mesma que dilacera por séculos a humanidade: orgulho

Bata, bata sem comiseração
Pois o canto que me ofereceu não é mais sutil que seu braço distante dos meus ombros
Menos doloroso que sua mão em minha orelha
Mais árduo que o osso que se quebra na mandíbula

Bata
Bata quantas vezes quiser
Bata com esse sorriso que esfrega em minha memória
Essas mãos sólidas e sem calos que penetra em minha carne maxilar
Ainda quero que bata na minha boca
Mas, por favor, não se esqueça de todo o resto, já inválido

Bata
Bata com tanta vontade que me faça chorar
Chorar por ter sido pouco ou mesmo desimportante
Fui ser o mais desagradável possível em sua vida

Bata
Bata com a indiferença
A mais ardida das dores que você poderá me tocar
Não me olhe nos olhos quando desferir o golpe
Não ouça meus reclames
Ignore o pedido de perdão
A clemência não deverá atingir seus ouvidos
Quanto mais seu coração
Não traga mais, compartilhando, o mesmo cigarro
Bata
Bata como se eu fosse o mesmo que o seu traidor preferido
Aquele que o feriu sem pudor, repetidamente
O mesmo desumano cínico que permitiu
Que o seu corpo repousasse em outra cama, ferido

Bata
Mas por favor bata para haver morte, de vez
Pois não há no mundo todo um só alento
Que me faça esquecer definitivamente
O brilho nos meus olhos que só você permitiu criar
ao se aproximar

Eu repetirei o clamor até você se impor
Bata!
Bata!
Bata para que meu coração deixe de estar partido
Que átrios aguentariam tão forte pulso de sangue de uma única vez?

Por favor!
Somente bata
Bata de uma vez, desgraça!
Bata por todas às vezes que sentou em meu sofá a minha espera
Enquanto em banho me dedicava a outro riso
A outra espera
Bata por saber que eu fiz o mais rápido tempo em trajeto apenas para não o deixar sozinho por mais instantes ociosos
Bata porque eu amei

Pelos deuses, estúpido! Bata!
Como eu queria estar lançado à sorte, novamente
Ao menos teria ar em meus pulmões
Ares que não usei enquanto você não queria mais um trago

Bata!
Por Deus me bata, vil!
Bata com a mesma força de quando foi surrupiado
Para que não carregue mais, por fim, essa mágoa
Já não estamos mais nos mesmos lugares
para sempre?

Bata!
Mas bata dentro de mim!
Não bata no mundo
Nunca no mundo
Porque ele revidará
Em sua simetria não poderá haver marcas
Já há aqui um peito cicatrizado sem vontades de continuar

Ó, por tudo que é mais nobre nesse universo consumista!
Por todas as partículas que nos compõe
e virtuosas ações de nossas mães
Bata!

Bata!
Apenas bata, sem cansaço
Procure bater com o ritmo do relógio
para não descompassar
Bata!

Quero estar em leito de morte e sentindo a dor que é o toque de seu desafeto
Que horror eu causei para receber em vida tamanha provação?

Bata, por Deus, apenas para me livrar desse fragmentado que arranha minha mente
Bata em minha cabeça para que ela se dilacere!
Não admito mais ser esse monstro ao ver sua imagem em retrato e não me constranger

Bata
Bata com o tamanho da minha saudade
Cânion entre peles alvas
Rostos decentes e pueris
E bocas marcadas por falsas sabedorias

Eu quero a morte!
Sem poder ouvir a sua voz
Talvez a ínfima das partes que me resta
Já não existe mais com alegria
Que todos saibam
Que morri infeliz
Descontente
Desgraçado

Bata, ser vil!
Ao menos bata
para não ser mais um "saco de batatas"
Para o meu propósito final
Pois já não nos temos mais na segunda pessoa do singular.

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