Chore, chore menino! Fará bem ao
menos por um tempo mesmo com o peito ardendo. Mesmo que a duração tente apagar
aquele sorriso mágico que nunca lhe foi negado. Mesmo que os momentos que
estiveram juntos foram determinados pelos dedos das mãos, contáveis,
singulares, laborais e dolorosos. Ah, claro meu menino, aqueles cabelos
recheados de um devir com ventos adornadores que se completavam em uma tez
escurecida pelos sóis. Não meu menino, não! Era um momento diferente. Lembro que
você tentou estender a mão e segurá-la muito, muito forte. Eram mãos de menino,
mocinho, não era nem um quase homem. Eu conheço essa dor meu menino. É a
maldita ausência. Ela desintegrou as liberdades que teriam. Maltrata, não? Pois
ainda vivo, meu menino, a herança é a imaginação. Poderiam ter caminhado ao
menos alguns dias da semana num parque da cidade. Poderiam, ao menos, serem
vistos juntos em corredores de um cinema. Você gosta disso, não é menino? Poderiam
ter sido irmãos. E agora meu menino, o que você poderá ser sem esse pedaço
fundamental em seu peito? E agora meu moleque que a cada dia abate sua alegria
porque já lhe devastaram por demais o ser. Não meu menino, ainda há tempo! Não mais
para aquela parte essencial que lhe tiraram, mas para o seu tempo. Eu sei meu
bom menino, ainda reclama a juventude como se o relógio apontasse para o passado
e você ainda pudesse esperar por ela.
Ela se foi há muitos anos, eu
sei. Inexistem palavras agora num presente sem companhia. Eu também me pergunto
meu menino, como existem pessoas egoístas no nosso mundo, pois foi uma delas
que determinou o fim do respirar da sua outra parte. Silenciou-a. Difícil é
falar do vazio, sabemos. Fale o nome dela e tente pensar naquele abraço mais
doce que já recebeu em sua vida. Era o abraço do amor fraternal. Amor tão
distante hoje de nós. Force com vontade e desejo para manter acessa a imagem
daquele sorriso ingênuo e verdadeiro. O sorriso de Adriana cujo sobrenome não
importa mais. Era o sorriso de Adriana. Era... Vá meu menino, descanse um
pouco, mesmo nessa vida de individualidades e desconfortos. Proteja a sua
mente para dar esse tributo a Adriana. E, por fim, não se desculpe por não
conseguir mais impedir que seus olhos fiquem avermelhados, meu menino, a
ausência por milênios nos deixou sem apetite.