02 novembro, 2008

Aqui te espero


Parece-me que nunca vivi para mim.
Outrora, anunciei o meu fim.
Hoje, pretendo a ressurreição de minha alma.
Engano.

Uma alma fortalecida, imagino.
Fortalecida pelo luto
Uma alma que foi renovada pelas noites de pânico,
pela profundidade do vazio,
por tua ausência.

Fortes minhas artérias e veias são o bastante,
pois esnobaram a dor causada pela doação perpétua.
A eternidade terá fim, creio,
ao menos para o meu ser.

Basta de querer te encontrar nas tranquilas lembranças, em uma cena filmada no decorrer de tua exposição.
Sobre o que dizeste?
Para quem o dizeste?

Saber é doloroso,
tu não o vives, ainda.
Cava-te até mim, cava-te!
pois, no abismo, não permanecerei só.



(Obra de Tomie Ohtake, Sem título, 1960)

03 setembro, 2008

Escolhas


Quando disseram às lideranças antigas de que a majestade é para um único senhor, muitos esqueceram da grandeza que é a humanidade: o desejo de vivenciar os outros e se esquecer de si mesmo. Outros, cônscios de sua tarefa, seguiram as próprias crenças. Seguiram reservados.
Hoje, as lideranças não são escolhidas... talvez nunca foram... São cada vez mais exigidas, não importa como.

Saiba, temos a cada momento menos oportunidades de revelar nossas potencialidades. Em momentos singulares dirão: "É verdade, ele fez! " ou, então, "Não, não foi possível!"

Figura: Péricles.

07 agosto, 2008

Não leias

Duas inspirações musicais. A arte imita a vida, mesmo?

Cara Valente
(Composição de Marcelo Camelo. Interpretação de Maria Rita)

Não, ele não vai mais dobrar
Pode até se acostumar
Ele vai viver sozinho
Desaprendeu a dividir
Foi escolher o mau-me-quer
Entre o amor de uma mulher
E as certezas do caminho
Ele não pôde se entregar
E agora vai ter de pagar
Com o coração, olha lá
Ele não é feliz
Sempre diz
Que é do tipo cara valente
Mas veja só
A gente sabe
Esse humor é coisa de um rapaz
Que sem ter proteção
Foi se esconder atrás
Da cara de vilão
Então, não faz assim rapaz
Não bota esse cartaz
Que a gente não cai, não

Ê! Ê!
Ele não é de nada,
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só
Um jeito de viver na pior
Ê! Ê!
Ele não é de nada,
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só
Um jeito de viver nesse mundo de mágoas.


O Mundo é um Moinho
(Composição de Cartola)

Ainda é cedo amor
Mal começastes a conhecer a  vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

27 julho, 2008

Descoberta primeira

Envio

Já não se sabe o momento exato de partir e
não quero me entregar tão cedo.
Aquela paixão que eu senti quando te conheci, não está rolando mais faz tempo.
Já não vejo mais o brilho dos teus olhos para mim.
Nem sei se ainda posso mesmo te fazer sorrir. Creio, porém, que sim.
Cada momento que passamos juntos foi aprendizado, apenas para mim, aparentemente.
Mas tudo o que foi bom se acabou. O pior, permanece, enfim.
E quando penso em ir embora, tu não queres dar motivos. Amedronta-se!
Disse que estou perdendo a paixão que tenho no coração. Se ainda há coração, devo ter perdido.
Eu fico disfarçando, finjo que não entendo e em pouco tempo relembro tudo outra vez.

Resposta

Tuas palavras não me prenderam momentaneamente.
Enxergo, claramente, teus desejos.
Fontes. Inspirações. Desejos egoístas.
Fogo como provocação. Súbita vontade de me ter, mesmo arredio. Inconfesso.
Se meu foco... Se foste tu... Seria e não é...
Teríamos juntos o outono mais sombrio.
Faltas e acomodações.
Requeres momentos. Dúvidas vis. Inseguro de mim e de nós.
Olhares esparsos nos cercariam.
Pois bem, foi!
Hodierno, vivifico o perpétuo.
Jamais o momento.

21 julho, 2008

Várias Noites

Esses bichos são a extensão da miséria.
Voam como se fossem os donos do ar.
Ar que se eu respirasse profundamente
Perderia-o.

Destrói-se, hoje, quase tudo.
Inclusive a esperança do ser.
Ser ambiente, ser vivo e ser gente.
Pior seria se não pudéssemos nem viver.

Gente, eu vivo em um ar
Ares e males
Vivo, porém.

Vieram e me contaram
Contaram que o ar virou morada de bicho
Um tormento gratuito
Atraso de sono
Coceiras
E eu vivi.


Cama, colcha
Se nos faltam os retalhos
preferiríamos a palha.
Ai sim! Feito, pois.
O barbeiro majestade.
O grilo minha depressão.
O pernilongo minha insônia.

Ouvi tanto bicho ao me deitar
Que se eu sonhasse... com a mata
Estaria cravado.
Pensei, contudo:
- Aqui jaz um defunto!
Jaz, aqui, um bicho.

27 junho, 2008

"No Paraíso da Ilusão"

Após uma década, ainda consigo, graças a uma memória vigorante, recordar-me dos sorrisos desta autora. Ao lado do barulho, da rotina embaçada, dos vultos humanos e do desentendimento vil relembro-me do encanto que é receber um sorriso ao invés de uma indiferença. O credo no humano não me permitirá, mesmo que doa, arrastar-me para longe de ti.
Graças ao sorriso dela, também, posso reafirmar meu desejo em viver. O seu exemplo é maior!
Transcrevo um breve poema, que expõe uma ferida ainda aberta. Minha alma sempre o possuiu, contudo.

Gostaria

Gostaria de não gostar de ti
então saberia como é viver em paz
Queria ser capaz
de te esquecer
Por que tua imagem não sai da minha mente
e pára de me perturbar?
Gostaria de um dia acordar
e em ti não mais pensar
Quero ser quem eu não sou
viver o que não vivo
e sentir o que não sinto
Ou ao menos saber o que não sei
não pensar em quem penso
e não amar a quem eu amo
Não gostaria de ser normal
se o normal das pessoas for amar e sofrer
E tão-somente correr para bem longe
e deixar de te pertencer.

Paula Bueno
(Janeiro, 1998)

09 junho, 2008

Resistirei

Par
Hoje acredito em nós,
não juntos, menos separados,
mas distantes. Longe, porém.

Humanos
Perdemos, vivemos
Voltamos e circulamos como o vento bravio
outrora manso, sorrateiro.

Perdi, perdi forças
Perdi
em batalha, mãos alheias feriram.
Incentivadas pelo demasiadamente humano.

A Fidelidade se perdeu
E tentou me levar com ela.
Perdemo-nos em um círculo de dizeres ignorantes.
Perdemo-nos no início da relação amigo-amorosa.

A Fidelidade cobrou-me ciúme.
Desejei perdê-la, então.

Perdi a Fidelidade para o ciúme,
algo dado, repassado, ignorante, vil.
Infortúnio de crença!
Transeuntes desamparados
por algo perpetuamente herdado.

Viram-nos amantes-amigos
Reviraram-nos pelos lados menos conscientes.
Julgaram os lados internos.

Não perdi somente a Fidelidade.
Perdi minha oração para o humano,
abaixo de um Céu empobrecido pela tormenta das mudanças atuais.

Sem questões, apenas afirmações claras.
Cônscias, resistentes.
Inemocionais.
Solitárias.

Jamais nos perderei.
Cativo-te, cativo-lhos.
Eterno responsável.
Entretanto,
perdi a Fidelidade para o ciúme.

02 junho, 2008

Amor-amizade

"O amor em forma de amizade deveria impregnar todas as relações e estender-se a toda a humanidade, porque @s amig@s se aceitam em suas limitações. [...]
É próprio desse amor não haver dominador(ra) nem dominado(a). [...]
É movida pelo desejo de justiça, igualdade de oportunidades e efetivação da dignidade humana: ama-se a tod@s sem exclusividade."

(Texto de Neusa Vendramin Volpe e Ana Maria Laporte. Adaptação de André Luiz Martins)

21 maio, 2008

Lição de casa


1. A respeito do Congresso Nacional, qual é a relação entre a produção legislativa em larga escala e a eficácia das leis no que diz respeito a implantação e respeito. A grande quantidade de projetos apresentados anualmente pelos parlamentares, tanto do Senado como da Câmara dos Deputados é realmente necessária e útil? Qual o efeito real desta grande quantidade de leis na sociedade? Esta é beneficiada em suas necessidades mais urgentes?
Nicolle, precisamos compreender a democracia representativa como a ação política mais exercida ultimamente. Ela é o suporte desta organização política. A representatividade está custosa para nós. Está deturpada, sem motivos claros e pouca expressividade coletiva. O coletivo é o principal, mas está escondido. Nossa Constituição é impressionante, mas não é respeitada integralmente quando devemos implementá-la, por exemplo. A implementação passa por critérios que a população não entende muito bem. Talvez nem mesmo o jurista... fruto dessa mesma população... As políticas públicas são determinadas ainda pelo amargo sabor do populismo... Então, o beneficiamento delas também está comprometido. A quantidade de projetos de leis demonstra confusão e não clareza sobre a realidade social daqueles (as) que pretensiosamente usam um tal título de experiência: “vida pública”. Título para mim inexistente. Não é mais aceitável a representação caduca. Rotação das lideranças já! É preciso repensar a democracia representativa, reorganizá-la, por fim, coletivizá-la. Um dos maiores problemas não está nos projetos de lei, mas naqueles (as) que os pensam.

2. Comente a oposição quantidade x qualidade dos processos legislativos.
Quais critérios precisaríamos aplicar? Perceba que utilizo “precisaríamos” porque é fundamental que a população recrie um sentido político para a representatividade. Mas esta mesma população está apática. Não (re) conhece nem mesmo as necessidades sociais.
A quantidade dos projetos de lei, como afirmei anteriormente, é a demonstração clara de confusão. Disputas e conchavos são comuns! Seriam aonde a coletividade fosse privilegiada? Negociações existem, também, e não é de todo uma característica desaprovada.
A qualidade dos projetos de lei, contudo, nós percebemos diariamente. Os projetos de lei atendem satisfatoriamente às necessidades sociais, como segurança, habitação e alimentação, por exemplo? Enumero estas por acreditar que sejam mais urgentes de projetos de lei eficazes. Não precisamos rediscutir a resposta, nós sabemos a resposta... É imperativo dialogar (para não reproduzir mais violência) sobre a representatividade e a eficiência dos projetos.

3. Há em nosso país, um predomínio do Executivo sobre o Congresso Nacional no que diz respeito a apresentação e aprovação de projetos e fiscalização?
A sugestão dos representantes políticos era fazer com que a população acreditasse em uma “harmonia” entre os Poderes. É fácil encontrar esta palavra norteando a relação entre o Executivo e o Legislativo, nas Leis Orgânicas (diretrizes municipais). Penso que no Congresso Nacional isso não seria diferente, afinal é ele que propõe as diretrizes para os Estados e Municípios. O impressionante é reconhecer que “a moda” não pegou.
O cenário é semelhante a esse: a população apática reclama, o Executivo procura atender, pressiona e gasta muito dinheiro no Congresso Nacional tentando resolver os assuntos que a opinião pública adota e adora criticar (e só), gasta na implementação dos projetos, gasta na fiscalização das políticas públicas... Agora podemos perceber por que é tão alta a taxa de juros?
A população ainda tem auxílios esclarecidos e importantes. Sinalizo apenas dois de muitos outros: os Movimentos Feministas e de Mulheres e os Movimentos GLBTT.

4. Existe, em nosso país um certo desconhecimento, descaso e falta de peso nas leis aprovadas votadas no Congresso Nacional? Este fenômeno, acontece em decorrência da alta produtividade legislativa?
Possivelmente. O mecanismo está falho. Não posso acreditar que os projetos venham para tranqüilizar a população, e sim para resolver as necessidades sociais por uma duração temporal respeitável. É custoso este mecanismo.

5. Sobre a questão da linha de sucessão presidencial, qual é o motivo para que o presidente do Senado seja o terceiro e o presidente da Câmara dos Deputados o segundo?
As representatividades crêem na onipresença política, ou seja, as oligarquias que governaram no passado do país legaram essa tradição de mando-governo para as nossas lideranças políticas. Sempre foi uma relação muito complicada. Veja, nós, momento ou outro, ouvimos um quase provérbio ecoar: “estão fazendo política!”. Vamos avaliar nosso verbete e entenderemos melhor o que nos foi dado de herança política. Sugiro uma questão provocativa: como poderemos ser mando-governados, considerando a sucessão presidencial, pela representatividade política que se manifesta apenas a seu favor, sustentada por muitos pares e absolvida pelos (as) que entendem imunidade parlamentar sinônimo de onipotência?

6. Apesar de pertencerem a um mesmo poder – Legislativo – é possível dizer que o Senado e a Câmara dos Deputados apresentam competências distintas. Em sua opinião, qual é a principal diferença entre as duas casas que as relacione diretamente com os seus representados: os Estados membro, no caso do Senado e o povo no caso da Câmara dos Deputados.
Não nos enganemos! As prioridades políticas no Congresso Nacional são os índices sociais (para as organizações internacionais se sentirem mais animadas para os investimentos privado e público) e a economia. “Time is money!” é comum ouvir pelos lados de lá...

7. Como a questão das imunidades material, formal e foro privilegiado expressam a garantia de uma independência do Poder Legislativo?
Expressam garantias particulares. A população deve julgar as ações das representatividades políticas, sempre. Como aceitar, então, que existam mecanismos de privilégio para elas? Algo não se apresenta muito sincero nesta organização...

8. Ainda sobre as prerrogativas, porque um parlamentar que cometeu crime envolvendo dinheiro público em exercício do mandato, por exemplo, pode ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal? Quais as implicações desta medida? A impressão é que o parlamentar se beneficia deste privilégio. Isto é verdade?
O bacharelismo nos permite compreender, mesmo após mudanças nominais, mais profundamente este assunto. Como seria possível um escravo questionar um senhor após uma decisão de punição? Em que momento o operário pode propor ao empregador que reveja as orientações administrativas? Que cidadão ou cidadã ousa perguntar a validade de uma decisão judicial?

9. Existe, no Brasil em seu sistema bicameral, alguma supremacia de uma casa em relação a outra?
Acredito ser inaceitável a supremacia. Acontecem sim conflitos discursivos e opiniões contraditórias. Esforços emaranhados e dúbios. Uma imensa confusão de responsabilidades. Atrapalha, certamente, os espectadores (nós). Enfim, tudo está muito próximo lá dentro e o que diferencia mesmo é a burocracia empregada. Ela precisa ser diferente ou aparentemente diferente. Acredito como validade de poderes, apenas.

10. Porque o sistema de eleição de representantes das duas casas são diferentes?
Nicolle, você acreditaria que as representatividades políticas também não entendem muito bem o razão desta medida? A impressão que nos passa é que são ocupadas com muitos assuntos e necessidades. Tudo parece muito rápido, não acha? Por isso precisam ganhar mais fôlego. Respirar fundo, acalmar os ânimos e pensar melhor no que irão exclamar. Planejar o futuro do país. Como é comum ouvir: “nas eleições nada é certo!”. Fica clara a preocupação, inclusive da população que reproduz sem avaliar corretamente: “é ano de eleição!” Apresenta-se um cenário de vale-tudo, afinal é eleição e vão ganhar com isso.

11. Existe hoje, na população brasileira, uma impressão de que o parlamento é nulo dentro do poder político. Porque isso ocorre? Este fato tem relação com a questão governabilidade x representatividade, onde um político, durante a eleição se coloca como pai e representante de um determinado grupo e, terminado o período eleitoral, passa a não governar para o mesmo?
Cresceram as lideranças populistas na América Latina. No Brasil não seria diferente. O Congresso Nacional controla diretamente nosso cotidiano. É o exercício legítimo da representatividade. Na outra margem está a população... apática, justamente porque há anos não se satisfaz com políticas públicas eficientes e pensadas para a coletividade. O particular e o público se entrelaçam e está dificílimo mudar isso. A ação governamental (o que você chama de governabilidade) está destoada das representações executiva, legislativa e judiciária porque não conhece a realidade social profundamente. Baseia-se em “acho que o mais importante é asfalto e médicos e médicas em posto de saúde” e não em uma educação que privilegie o esclarecimento. Não acredito nas ações assistencialistas empregadas pelas Secretarias e Ministérios. O (a) desempregado (a) não tem que trabalhar! É penoso trabalhar. Você já deve ter ouvido que segunda-feira, ou qualquer outro dia útil para o trabalho após um feriado, é absurda. A idéia entristece quem trabalha. Cansa só o pensar em ir para o trabalho, ver os colegas que não suporta mais, participar de comemorações de aniversário etc. O nosso imaginário reproduz isso, e o pior, passamos para nossas crianças. Então, por que é que existe tanto “Vale-Um”, “Bolsa-Tudo” etc.?
As representatividades políticas fizeram, com sucesso, a lição de casa, mas a virtude já vinha de períodos antigos. A lição: não socialização do conhecimento – o que alguns despropositados chamam de “emburrecimento da população”. Não acredito nisso! A ditadura censurou os (as) filósofos (as) e os (as) cientistas sociais. Espero que agora a implementação das disciplinas Sociologia e Filosofia no Ensino Médio permita a médio e longo prazo reverter essa situação.
Resultado: apatia política da maior parte da população brasileira. Uma sugestão? Socialização do conhecimento, ou seja, privilegiá-lo.
Obrigado.

Entrevista a Nicolle Lemos, acadêmica de Jornalismo da Universidade Mackenzie, em 20 de novembro de 2007.

23 abril, 2008

Idéia inicial

Começo a pensar que existem pessoas para maior doação e poucas sentimentalidades...

10 abril, 2008

Liberdade

"A angústia é a possibilidade da liberdade, só essa angústia é, pela fé, absolutamente formadora, na medida em que consome todas as coisas finitas, descobre todas as ilusões. Aquele que é formado pela angústia é formado pela possibilidade e só quem for formado pela possibilidade estará formado de acordo com a sua infinitude. A possibilidade é, por conseguinte, a mais pesada de todas as categorias."

Soren Kierkegaard (1813-1855)

02 abril, 2008

É isto um homem?

Vocês que vivem seguros
em suas cálidas casas,
vocês que, voltando à noite,
encontram comida quente e rostos amigos,
pensem bem se isto é um homem
que trabalha no meio do barro,
que não conhece a paz,
que luta por um pedaço de pão,
que morre por um sim por um não.
Pensem bem se isto é uma mulher,
sem cabelos e sem nome,
sem mais força para lembrar,
vazios os olhos, frio o ventre,
como um sapo no inverno.
Pensem que isto aconteceu:
eu lhes mando estas palavras.
Gravem-nas em seus corações,
Estando em casa, andando na rua,
ao deitar, ao levantar;
repitam-nas a seus filhos.
Ou, senão, desmorone-se a sua casa,
a doença os torne inválidos,
os seus filhos virem o rosto para não vê-los.


LEVI, Primo*. É isto um homem? Tradução de Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000. p.9.
* Primo Levi (1919-1987), escritor e químico italiano, sobrevivente de Auschwitz.

31 março, 2008

Diário e girassóis azuis

Hoje recebi a visita do Dr. Compixote, da Universidade Universal das Esferas Maiores, do Curso de Ciências Progressivas e Cósmicas, do Departamento do Movimento Dialético e Raciocínio Lógico. Publicou recentemente uma obra em que trata sobre algo... Intitulou-o Estudo Avançado para uma Epistemologia em um Futuro Saudável. Conceituou rede teífica, uma caricatura do exercício da aranha, de Karl Marx, no texto Jornada de Trabalho, em O Capital.

21 março, 2008

Linguagens

"Você roubou meu sossego.
Você roubou minha paz.
Sem você, eu sofro.
Com você, eu sofro mais."

(Uma brincadeirinha do Zé Celso)


"You stole my tranquility.
You stole my peace.
Without you, I suffer.
With you, I agonize."

(Tradução para o inglês de Thiago Nascimento)

13 março, 2008

Nosso jeito

Eu pensei em ligar para ti,
não pude
estava em São Paulo
Se não fosse a saudade
A saudade de encostar minha testa na tua
Eu estaria livre de ti.

Eu pensei em ligar para ti,

não pude
esperava mais uma vez
a confirmação do meu sucesso
longe,
bem longe de ti.

Eu pensei em ligar para ti,

onde a modernização
permitiu encolher escolhas.
Se não fosse a saudade
Aquela mesma da testa e do "pânico".
Aquela mesma que no verão me fez retornar para teus braços,
teus beijos e carícias ingênuas.
Eu estaria fortemente
apaixonado por mim,
Sem outrem, ninguém.
Sem ti.

Eu pensei em ligar para ti,

não para ouvir-te
mas, sentenciar-te.
Pois o bem lançado
a mim é,
sejas tudo, sejas quem tu és.
A saudade... do início...
Ah, a saudade!
Deixei-a em São Paulo.

16 fevereiro, 2008

Lispectoriando

Toda vez que fumo, lembro-me de Lispector
Não de suas causas vividas, pouco de seus amores
Toda vez que fumo, lembro-me de Lispector
Pelos momentos que passou solitária, ausente
Rica, enluarada em várias regiões do mundo
Pobre, desgastada por enxergar paredes, salas e prédios
Maravilhosa, sob a companhia dos livros.

Toda vez que fumo, lembro-me de Lispector
Não de seus amores, talvez um
somente ela
Só e a sós

Toda vez que me encontro, lembro-me de Lispector
Pela semelhança de ser
Não do estado,
Não da criação
Sim da ausência.

13 janeiro, 2008

A violência contra os humanos

Eventos cotidianos acontecem sem a vigília do Estado. Os centros urbanos incharam e as políticas de habitação e transporte não suportam devidamente as necessidades sociais, entendidas como necessidades de mercado para muitos analistas. Outras formas, como os resultados do não reconhecimento cívico, pelo Poder Público, exibe uma democracia frágil, uma economia de mercado e de capital atrasada e uma política representativa desgastada pelos ofícios oligárquicos.
Antes pensado como território de exploração, hoje o Brasil ainda preserva a "herança rural" apresentada à história política por Sérgio Buarque de Holanda e "economia atrasada" por Caio Prado Junior.
A distância de renda entre as populações ricas, médias e pobres oferecem um campo farto de ações violentas e desumanas (atrasos de benefícios, suspensão de direitos e garantias trabalhistas, filas, conflito armado no interior do país sem o acompanhamento do Poder Judiciário, assaltos a instituições de crédito popular - mercearias, bares e lanchonetes - morosidade burocrática etc).
Hoje, nem os super-heróis poderão civilizar o país, justamente porque esta idéia não se fortaleceu além do Atlântico Norte.

09 janeiro, 2008

Pares e par: a reconstrução do amor romântico

Para o humano que seja vivo como o Verde-Vida.

Que me ame como ama a "curva livre e sensual" das formas e o estético aplicado à vida e a mim. Não desejo que me ame pelo que fui e poderei ser, mas pelo que tento ser a cada momento. Par, casal, namoro... tanto faz... prefiro o pronome nós.
Talvez o par, o casal, o namoro perfeito não exista concretamente, mas é válido, perpetuamente, a reconstrução das possibilidades e das verdades vividas.