31 julho, 2005

Crenças e saúde


Algumas vezes eu me questiono: quais as razões para que o intelecto seja submetido ao corpo? Loge de fazer considerações maniqueístas, o conflito constante entre o bem e o mal é visível aos olhos dos mais crédulos, e dispensável aos laicos. Quereríamos, nós humanos, depor o corpo e sublimar o intelecto? Precisamos crer em ditos tradicionais para que salvemos nosso corpo das enfermidades causadas, também, e, não indiretamente como alguns acreditam, pelo próprio intelecto?

Reafirmo minha preocupação com meu suporte físico, pois sei das maiores dificuldades que poderia encontrar sem o seu saudável estado.

Conto com minha crença na Medicina moderna (uma Medicina não pertencente apenas aos grandes expoentes científicos, mas as chamadas "medicinas" orientais), e nas seguranças que podem me fornecer, permitindo acreditar no prolongamento de meu suporte físico.

Espero o mesmo para todo humano.

22 julho, 2005

Mário Faustino (1930-1962)


A sua morte trágica em 27 de novembro de 1962, na explosão de um Boeing da Varig, confirmou a previsão de uma frenóloga de Nova York. Morreu aos 32 anos de morte anunciada e pressentida. Toda a sua obra é marcada de presságios, envolta numa aura dramática, tensa, onde a morte paira seu silêncio e vulto.
Apreciar as palavras de Mário Faustino não é um mero esforço. Precisa ser sensitivo para viver o poema. Sobre poesia, sou de poucas palavras. Sobre vive-lo sei o bastante para sonhar. Deixo um poema, dos muitos que transcreverei.

Balatetta
Por não ter esperança de beijá-lo
Eu mesmo, ou de abraçá-lo,
Ou contar-lhe do amor que me corrói
O coração vassalo,
Vai tu, poema, ao meu
Amado, vai ao seu
Quarto dizer-lhe quanto, quanto dói
Amar sem ser amado,
Amar calado.

Beijai-o vós, felizes
Palavras que levíssimas envio
Rumo aos quentes países
De seu corpo dormente, rumo ao frio
Vale onde vaga a alma
Liberta que na calma
Da noite vai sonhando, indiferente
À fonte que, de ardente,
Gera em meu rosto um rio
Resplandescente.

No sonolento ramo
Pousai, palavras minhas, e cantai
Repetindo: eu te amo.

Ele, que dorme, e vai
De reino em reino cavalgando sua
Beleza sob a lua,
Encontrará na voz de vosso canto
Motivo de acalanto;
E dormirá mais longe ainda, enquanto
Eu, carregando só, por esta rua
Difícil, meu pesado
Coração recusado,
Verei, nesse seu sono renovado,
Razão de desencanto
E de mais pranto.

Entretanto cantai, palavras: quem
Vos disse que chorásseis, vós também?

17 julho, 2005

O sentido da Parada


Neste último dia 15 de julho, aconteceu a IV Parada da Diversidade aqui em Campo Grande, onde os gays, as lébicas, as trangêneros e os simpatizantes manifestaram seu desejo: o respeito à diversidade e a garantia dos direitos. Qualidades que são fundamentais para a sobrevivência da vida, para a vida das pessoas.
Acompanhei de perto a realização de um seminário (que antecedeu a Parada) que tratava sobre a cidadania e políticas para atenter ao público jovem homossexual, assim como apoiei a passeata entre as ruas da cidade, sobre um trio elétrico.

Estiveram presentes na organização do seminário, assim como da Parada: a ATMS (Associação das Travestis de Mato Grosso do Sul), o CPJ (Centro de Protagonismo Juvenil), Mulheres de Mãos Dadas e o GELLS (Grupo de Estudos das Livres Sexualidades) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, do qual sou membro há três anos.
A Parada foi realizada com recusos da Secretaria de Cultura, ou seja, com recursos do Estado, graças aos impostos cobrados. Parte do financiamento deu-se pela Coordenação de Prevenção DST/AIDS, da Secretaria Estadual de Saúde.
Essa atividade mostrou como este público (representados pelas intituições acima citadas) empregou os recursos públicos e que sua aplicação resulte no desenvolvimento de ações (manifestação) cotidianas e permanentes, e em seguida, propor políticas públicas para atender o mesmo.

Não encontrei razões para acreditar que o preconceito e as dificuldades passadas por essas instituições, pudessem acabar com o movimento glbt aqui em MS, mas também não acredito que as realizações e os frutos colhidos foram suficientes. Uma das afirmações foi notar novas organizações que surgem e se afirmam no interior do Estado de MS. Fiquei surpreso com empenho de um grupo de liderança em Nova Andradina. Comporam um grupo e fundaram um instituto para atender ao público glbt da cidade. Isto é resultado de encontros e seminários realizados ano antes. É o esforço de pessoas de boa fé, de trabalhadores, de pagadores de impostos como toda a sociedade brasileira, de pessoas de carne e osso...

Quero entender por que é necessário o mês do Orgulho Gay para exigir uma importante característica política: a garantia dos direitos políticos (não apenas os que se tornam lei, mas toda a amplitude de direitos que afirmem a humanidade do ser vivo possuidor de telencéfalo altamente desenvolvido).
Espero que as ações a favor da mulher, da mulher lésbica, da criança, do jovem, do jovem homossexual, do homem, do homem gay, do idoso, do idoso homossexual não fiquem apenas em palavras que contentem a burocracia e a hipocrisia de determinados grupos sociais, mas, sobretudo, que fortaleça a dignidade humana, afinal, o ser humano é digno de ser humano.

12 julho, 2005

Firmamento


Há dias não reparo as nuvens e o horizonte. Na verdade, não compreendo por que algumas inspirações filosóficas devam ser remetidas ao céu.
Francamente, nos dias atuais, compreenderia fracamente o por que das indagações. Sua função será dar suporte à humanidade?
Esvaíram as razões para que pudesse me sentir aflito e ansioso. Dedico-me à profissão.
Espero contar com o auxílio dos Antigos Deus aprisionados em meu firmamento.

10 julho, 2005

Fala


(...)

- Sabes cantar?
- Sei não.
- Sabes ludibriar?
- Sei não.
- Sabes ouvir?
- Sei não.
- Queres cantar?
- Não.
- Queres ouvir?
- Não.
- Queres ludibriar?
- Notas quando trato com harmonia sua pergunta?
- Não.
- Agora sabes o que pretendo.


(...)