13 janeiro, 2019

Eu estive lá fora sem você

Hoje vi que morremos mais rapidamente num lugar que amamos, mas que não é possível haver amor.  Se há, pessoalmente não percebi. Nem notei! Hoje acompanhei uma noite com brilhos que iluminavam meus olhares e entoavam divertimentos. Mas eu, logo eu que era da noite, já estou morto. Ela se fez fúnebre. Como se estivesse me enterrando na cidade cinza.
Hoje morri mais depressa porque a minha ira não foi contida. Foi incentivada pelo calor incomum. Houve desajuste, implicância, desventura, raiva, descontrole, revanchismo, regateirice, rusticidade, desprimor, inconveniência, ruralidade, aniagem, desmesura, asselvajamento, desamabilidade, despolidez, indecorosidade, insolência, impolidez, incivilidade, indelicadeza, desconsideração e pavor. Justamente porque não quis me ver. Inventou um descuido sobre meu contato. Desfez de minha amizade. Desonrou minha atenção e, quando me escreveu, ousou me culpar. Morremos! Eu já vim morto para cá. Não me interessa saber sobre seu estado já que não quis me atender.
E por que motivo morri mais depressa na cidade cinza? Foi porque a minha mais sincera demonstração de cuidado não foi feita pelo amor.

08 janeiro, 2019

Lábios

Há uma mistura em você: dentro de você há um você que você não vê. Alguns poderão até vê-lo, mas sempre enxergarão o sorriso que você demonstrar e o som que entoar. Percebem mais facilmente a face séria, mesmo musicada, também.
Na verdade você sorri para você mesmo, infortunadamente por pouca idade, você não percebe você mesmo: não, necessariamente, você, mas a mistura que é você.
Na verdade, verdade mesmo, há um você sóbrio, que não quer se enganar a você mesmo e a ele. Você até percebe que você está em você, vinculado, moldado, envolvido, relatado, musicado. É uma mistura quase conexa perfeitamente. Quase porque é você que ouve sempre, mas não você, é aquele você. Você ouve outros vocês em vozes alheias. Um você que se vive com o outro você pela música. Há até lábios livres em você.
Na verdade, sem falsas ideias e desonrosos sentimentos, você ao se voltar para você acaba sendo o você que sorri, por um lado, mas fica sisudo no outro lado: é a mistura, sabe?
Você não se perde, mas também não se alcança, justamente, porque o você ao tratar sobre você que está rindo, é o você mais vívido enquanto você fica sério. É pura mistura, ocupando o mesmo lugar no espaço.
Você não precisa entender você, ainda. Você nem deve ouvir você, enfim. Você, talvez, nem pretenda. Bastam vocês.