“Na natureza nada se cria, nada de perde, tudo se
transforma.”
Antoine Lavoisier
Antoine Lavoisier
Não é de costume eu me encontrar
comigo durante a rotina diária. Hoje, contudo, inesperadamente dois fenômenos
naturais me esclareceram algumas questões.
Estava ali, parado comigo em
reflexivo esforço, quando percebi, solitária uma flor cuidada com muito esmero
por uma mulher muito especial. Veio a mim uma imagem tão confortável: aquela
mulher cuida tão bem daquela solitária flor que sua beleza não se esconde,
apresentasse franca e com um singular encanto. Também estava, além de solitária
em sua única capacidade de ser, com suas pétalas voltadas para baixo, mesmo em
seu esplendor.
Percebi, rapidamente, que atrás
de uma beleza há um cuidado tão dedicado que as transformações do cotidiano
passam a ser mais conquistas que desencontros, conclui.
Logo, direcionando meu olhar para
o lado, e ainda pensativo, encontrei um gato preto sozinho em si e desenvolvendo
sua atividade instintiva. Seus pelos pretos e completamente pretos me levaram a
acreditar que a sua vida não se reduzia a estar em si, unicamente, e sim em
completar o ciclo de vida de sua maneira mais adequada e esperada.
Ao retornar, lembro de admirar
novamente a flor solitária, cuidando para que minha memória um dia, lá no futuro que
desejo distante, me faça revê-la em imagem. O gato, aquele com pelos pretos e
completamente pretos, driblou-me e se adiantou a frente e, parando me
olhou com seus olhos de gato preto e completamente pretos. E conforme me adiantei
mais próximo a ele, levantou-se e correu para perto da janela que lhe
pertencia, pretendendo escala-la com maestria. Antes, novamente olhou-me com seus olhos de gato preto e completamente
pretos. Foi ai que aprovei que a ele também eram dados bons cuidados e suprimentos
ofertados por uma mulher atenciosa, muito especial.
Éramos três solitários em uma
tarde de sensação térmica agradável e atmosfera reflexiva. Já se desfizeram os dias em
que me desconfortava um encontro comigo. Verifiquei, por fim, que estive em
três ótimas companhias: a solitária flor com pétalas para baixo, o gato com
pelos pretos e completamente pretos e eu.
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