06 setembro, 2014

Diário

“Na natureza nada se cria, nada de perde, tudo se transforma.”
Antoine Lavoisier

Não é de costume eu me encontrar comigo durante a rotina diária. Hoje, contudo, inesperadamente dois fenômenos naturais me esclareceram algumas questões.
Estava ali, parado comigo em reflexivo esforço, quando percebi, solitária uma flor cuidada com muito esmero por uma mulher muito especial. Veio a mim uma imagem tão confortável: aquela mulher cuida tão bem daquela solitária flor que sua beleza não se esconde, apresentasse franca e com um singular encanto. Também estava, além de solitária em sua única capacidade de ser, com suas pétalas voltadas para baixo, mesmo em seu esplendor.
Percebi, rapidamente, que atrás de uma beleza há um cuidado tão dedicado que as transformações do cotidiano passam a ser mais conquistas que desencontros, conclui.
Logo, direcionando meu olhar para o lado, e ainda pensativo, encontrei um gato preto sozinho em si e desenvolvendo sua atividade instintiva. Seus pelos pretos e completamente pretos me levaram a acreditar que a sua vida não se reduzia a estar em si, unicamente, e sim em completar o ciclo de vida de sua maneira mais adequada e esperada.
Ao retornar, lembro de admirar novamente a flor solitária, cuidando para que minha memória um dia, lá no futuro que desejo distante, me faça revê-la em imagem. O gato, aquele com pelos pretos e completamente pretos, driblou-me e se adiantou a frente e, parando me olhou com seus olhos de gato preto e completamente pretos. E conforme me adiantei mais próximo a ele, levantou-se e correu para perto da janela que lhe pertencia, pretendendo escala-la com maestria. Antes, novamente olhou-me com seus olhos de gato preto e completamente pretos. Foi ai que aprovei que a ele também eram dados bons cuidados e suprimentos ofertados por uma mulher atenciosa, muito especial.


Éramos três solitários em uma tarde de sensação térmica agradável e atmosfera reflexiva. Já se desfizeram os dias em que me desconfortava um encontro comigo. Verifiquei, por fim, que estive em três ótimas companhias: a solitária flor com pétalas para baixo, o gato com pelos pretos e completamente pretos e eu.

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