20 dezembro, 2013

Espera

Há uma frieza tão grande nos gestos que acabei conquistado pelo medo. Não o receio de perder ou ficar perdido, mas de sonhar. Costumo negar o verbo sonhar. Acontecem instantes tão supérfluos que precisaria reaver o meu ser por completo, incluindo os tais momentos de prazer. Prazeres? Parece-nos tão formosos e estáveis. Farsa! O que somos senão instantes de busca para satisfação de desejos... Ah, basta! Não pode haver mais negações. Não nos alertaram, quando infantis, que o esperar assemelha-se ao sofrimento da perda?

09 setembro, 2013

Nostalgia

Talvez seja anúncio desprovido de pretensões mundanas. Talvez seja o anúncio de um devir mais calmo. Pode ser que as vivências tenham se (re)encontrado. E o que as circunstâncias provam quando estamos com a consciência tranquila? Com que humor enfrentaremos o tardio, o passado ressentido e a amarga ideia de que não fomos desonestos? Que profundidade há na tentativa de ser justo consigo e com os pares? Quisera ter aquela que sempre me retribuía os meus escritos com gentileza e entusiasmo. Sinto falta de ser aquele que por anos atrás se perdeu e se transformou nessa forma humana menos incauta.

09 julho, 2013

Por uma noite igual a anterior

Perplexo comungou de um instante de verossimilhança: causava arrepios ao comentar sobre os detalhes. Eram eles os mais sapecas da noite, envolvidos os participantes em um jogo fraternal. Na espreita do acaso suspirou: "Que os dias sejam tão gentis como a suave brisa matinal em plena primavera." Acontece que ainda era inverno... E continuou: "Que os sons embalem o corpo em pleno cotidiano e que para o melhor possua sempre a vitalidade ao acordar." Já não era tempo de invejar e sim, propriamente, esperar o bom e honesto afeto. Já se fazia madrugada e nem ousavam as nuvens oferecer mais águas. Continuaria por quanto tempo desejando um máximo de sentimento que até então não surgira? Quer-se muito em tempos de escassez de vontades.

27 maio, 2013

A sensação do envenenamento



Justiça não é bem escolha. É a seiva de toda humanidade, por certo. Ela é atemporal. Dois detalhes existiram: o primeiro e menos ingênuo é que eu sempre soube de seu interesse – eu ainda, como antes, continuo chamando a atenção de pessoas inexperientes no amor; o segundo foi a descoberta da sua destacável qualidade: insensatez! Da sua insensatez! O que me leva a não denominar sua presença nesse escrito na segunda e íntima pessoa. A pior sensação é saber que eu nunca lhe amei como julgou me tratar em suas tentativas de me manter aprisionado naquela suposta relação: “te amo”, como dizia desavergonhadamente, já não é uma conjugação valorizada hoje em dia, principalmente para quem já escutou essa expressão verbal centenas de vezes, justamente por pessoas parecidas com você: fracas. Fraqueza que é menos contagiosa com o passar dos momentos afetivos, descobertas de que em nossa vida social o mais importante é se tornar vil! Tão vil que adestramos as palavras para nos mantermos menos afetados pela poção: veneno produzido pela menor capacidade que já encontrei nestes últimos anos. Em qual estado da natureza julgou possuir autoridade para ousar me inebriar com palavras tão esparsas, profundamente ocas e insensivelmente aprisionantes? Torpe! Ínfimo cadáver sem ética! Monstruosidade fugidia e que em momentos descontraídos esquecia-se do disfarce. Nunca poderá me assombrar, nem mesmo agora em que após o término de uma relação enfraquecida foi, propriamente, mais honesta a aquele que o permitiu recolher, por simples instantes, sinceridade. Bondade, ora! Serei misericordioso, contudo. Afinal estamos em patamares diferentes. O tempo o sentenciará! Com meu auxílio determinarei: a jamais adentrar novamente na carruagem em que por dias o vento pretendeu abençoar sua face. Não só pretendeu furtar-me, mas sim ao tempo e a ele não se ofertam devaneios gratuitos. Ele é rancoroso. Você se tornou tão vulnerável que os ramos dourados dos antigos mitos jamais encobrirão seu corpo. Quer mais indesejável veredicto? Para toda a sua história de vida estará envenenado! Contudo, há uma alternativa, agora. Não sou eu quem a ofereço certamente. Somos seres no mesmo embalo de vida humana. Criou para você um labirinto! Se reparar as virtudes, poderá reconhecer antes do término de sua respiração a contemplação e a magnitude de uma vida sadia, apesar dos enganos comuns cometidos. Todavia, se por fim, em leito de morte, houver esquecido as virtudes, findará envenenado pela própria soberba e a ela Prudêncio, poeta romano, recomendou a modéstia, vigiando-a durante toda a jornada. Somos nossos próprios algozes. Cabe a você o despertar, ausente meu auxílio.