15 novembro, 2009

Retorno


No começo dos anos 90, um jovem rapaz apaixonado por estórias incompletas se apresenta a um cinema, era sua primeira ida. Não menos incompleto como suas estórias prediletas, alcança a tribuna da bilheteria e reclama um ingresso para a sessão. Logo que consegue direciona-se para as poltronas, sem sacos de pipocas e refrigerante. Sozinho.

Pela manhã, imaginavam sua alegria para os comentários e, por pouquíssimo tempo entre o intervalo do banheiro e a saída para a escola, nenhuma palavra de satisfação foi ouvida. Nem mesmo o nome do filme comentou. Os argumentos e idéias mais brilhantes estariam por vir, não naquele momento nem naquela situação doméstica, afinal, o maior de todos os desejos humanos, para aquele jovem rapaz, era a solidão de um apartamento de médio tamanho no centro da capital. Não se sabe se seria a única sensação, mas a mais evidente, certamente.

Após chegar da escola, ainda com o mesmo semblante, o rapaz se queixa do clima: - Aqui faz um calor desgraçado! Disse à mãe, ainda preocupada com o preparo do almoço. Ela acena com a cabeça afirmativamente tentando concordar e logo que desocupasse do fogo iria chamar sua atenção e escutar um comentário, entretanto esperava demais daquele que um dia chamou de “filho querido”.

Satisfeito pela comilança, o rapaz lançou-se ao quintal para mais uma vez imaginar situações de desconforto com amigos e pessoas imaginárias. Elas não se comunicavam, ele não queria ouvi-las, na verdade. Tinha uma espiritualidade duvidosa, desde sempre. Achava graça de alguns fatos pouco hilariantes. Chegou até a rir quando soube de um suicídio mal concluído. Não, o jovem rapaz não era um canalha, nem uma pessoa de difícil convívio. Pelo contrário, chamava sempre os amigos para uma rodada de suco e biscoitos, quando se sentia muito ansioso. Era de muitas palavras alegres. Quando criança procurava ler todos os letreiros que encontrava pelo caminho de volta à casa. Ainda não adulto procurou esclarecer alguns significados, palavras estrangeiras e símbolos universais. Concordava consigo mesmo ao ler um livro, mesmo que fossem apenas as primeiras páginas. Lia pouco, contudo. A inteligência lhe foi grata, porém. Passou mais um dia em sua vida. “O tempo – dizia o rapaz – é a nossa mais deliciosa criação.”

Nenhum comentário: