Fomos criados para pertencermos a tantas coisas. Não seriam
coisas, mas situações, contudo. Momentos intermináveis em companhias agradáveis
e instantes tão supérfluos ao lado de desconhecidos. O que sempre almejamos,
mesmo para o bel prazer, pela satisfação de sermos notados por alguém
declaradamente próximo, é a incerteza de nos pertencermos e pertencermos aos
outros. Pertencimento não é uma escolha tão fácil e pasmemo-nos: nunca será,
pois as decisões nos desenergizam de maneira quase absoluta. Atribuímos
qualidades desconexas para a natureza humana e sequer pesquisamos o outro
profundamente. Formulamos desenhos, esboços e cálculos para reflexões
infundadas, haja vista que o horizonte da dignidade paira além do natural. Sorrimos
mais para dentro porque ao nosso redor substituímos verdades passadas. Quase verdades,
exclamaríamos. Aguardamos pacienciosamente declarações de pessoas
caracterizadas por suas falas e pouco por suas ações virtuosas. Valemo-nos de
competições e apimentadas conversas acirradas. Testamos a dignidade o tempo
todo: a alheia, provavelmente. Suplicamos desejos que jamais se revelarão. Pretendemos
vontades eternamente idealizadas. Seria a dignidade alheia tão vorazmente
mastigável que não é possível admirá-la, mesmo sabendo, que pelo resto de nossa
existência, inexistirá o retorno? Ao som de Frédéric Chopin, prelúdio em E-Menor,
ópera 28, número 4, encerramos, cônscios de nossas emoções.
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