17 janeiro, 2014

Desterro

Fomos criados para pertencermos a tantas coisas. Não seriam coisas, mas situações, contudo. Momentos intermináveis em companhias agradáveis e instantes tão supérfluos ao lado de desconhecidos. O que sempre almejamos, mesmo para o bel prazer, pela satisfação de sermos notados por alguém declaradamente próximo, é a incerteza de nos pertencermos e pertencermos aos outros. Pertencimento não é uma escolha tão fácil e pasmemo-nos: nunca será, pois as decisões nos desenergizam de maneira quase absoluta. Atribuímos qualidades desconexas para a natureza humana e sequer pesquisamos o outro profundamente. Formulamos desenhos, esboços e cálculos para reflexões infundadas, haja vista que o horizonte da dignidade paira além do natural. Sorrimos mais para dentro porque ao nosso redor substituímos verdades passadas. Quase verdades, exclamaríamos. Aguardamos pacienciosamente declarações de pessoas caracterizadas por suas falas e pouco por suas ações virtuosas. Valemo-nos de competições e apimentadas conversas acirradas. Testamos a dignidade o tempo todo: a alheia, provavelmente. Suplicamos desejos que jamais se revelarão. Pretendemos vontades eternamente idealizadas. Seria a dignidade alheia tão vorazmente mastigável que não é possível admirá-la, mesmo sabendo, que pelo resto de nossa existência, inexistirá o retorno? Ao som de Frédéric Chopin, prelúdio em E-Menor, ópera 28, número 4, encerramos, cônscios de nossas emoções.

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