09 fevereiro, 2025

A vontade de viver novamente

Eu sempre soube que viver solitário não era a saída para a minha angústia. Saudade sinto de ficar horas recebendo, inexplicavelmente, um afago no coração por uma pessoa confiável. De fato! Hoje estou com ternuras dominicais acentuadas. Desculpem-me, vocês não têm nada a ver com isso. Muitas pessoas vivem com outras pessoas harmoniosamente, amizades com seus namorados, irmãos conversando sobre o passado e aprendendo a como sobreviver no presente. Nada no futuro importa quando se está acampado dentro do próprio quarto, rodeado de vontades, sem intimidade e afeto humano, inexistindo razões para sorrir e detestando o capitalismo.

No fundo, eu não quero mais compartilhar meu corpo com outro corpo. Deve ser por causa do cansaço. Na beira, eu queria, mas sei que ao compartilhar um texto poético analisado e direcionado especialmente para mim, um elogio desavergonhado sedento de acolhimento e a fala provocativa do apaixonado entusiasmado fariam de mim um renovado romântico. Sou das artes plásticas, da performance teatral autraniana, da pouca vontade de ficar sobre as correntezas relaxantes de um córrego. Já não sei mesmo ao certo se quero ficar só por mais tempo. Há dúvida e ela precisa ser esclarecida.

Raramente, tenho voltado a este estado: querer papear com alguém por horas e esquecer dos compromissos laborais do começo da semana. Antes, muito antes da pandemia, a conversa era mais embaixo. Nos rincões do meu coração pulsava a vontade. A mesma vontade explicada por Schopenhauer. A vontade de viver ao lado de um homem. Um homem completo, integral moralmente, honesto no costume e digno de conviver. Sem contar no charme que envolveria um artificial debate sobre a literatura machadiana. Ao som originalíssimo de Waltel Branco. Nas inspirações cinematográficas de novos diretores imigrantes do Oriente Médio e, por fim, no degustar de novos drinks sobre o balcão da sala de estar.

Hoje, somente hoje, desejo lá do fundo da minha mente conversar com alguém interessante. Do afago sincero e entregue a mim com devoção. Quem possa me fazer rir com apenas uma análise irônica sobre como não pareço ter quase meio século de vida e ter um coração incompleto.