23 maio, 2018

Amado

Eu sei, bem como você também, que as imagens que porventura sobressaiam em algum intervalo do nosso dia-a-dia são sobre nossas memórias e não parecem menos árduas do que antes do distanciamento. Podemos seguir em frente com nossas escolhas em nossas vidas sem sentidos: ao menos tento aproximar você do meu suplício, e ainda iremos nos esbarrar, mesmo naquelas mais longínquas lembranças que ocupam o mais profundo de nossas mentes. Não haverá cobrança mais, pois prescreveu o tempo de nossa amizade: agora somos apenas memória. O distanciamento nos auxilia e, simultaneamente, nos perdoa, mesmo que seja apenas uma ilusão. Você e eu não fomos uma escolha, nós nos escolhemos. Eu e você não fomos apenas uma idealização de perfeita irmandade, eu pereci e você não se importou. Você e eu não fizemos devaneios, não houve oportunidade. Eu e você seremos apenas conhecidos num oceano de sofreguidão. Nós seremos somente passado. Temos, ao menos, uma cicatriz em comum: o medo de não sermos amados.