“O verdadeiro poema é sempre pedagógico.”
Mário Faustino
Por que eu não consigo aprender o ofício de um verdadeiro poeta?
Apesar de anos tentando espremer um punhado de saberes para compor um conto, obtive, entretanto, um conjunto poético: substancialmente ignóbil.
O que fazer para poder ser um poeta? Seria um desejo absurdo? Por que não me contento em não ser um artista do ritmo das palavras? Se é que um poeta o deva ser.
Eu mal posso escrever meu próprio idioma. Aquele que me fez cidadão de outrem, preso a outrem, endividado pelo resto dos dias em solo.
Realmente pretendo esculpir um novo eu, distante das influências que já recebi e ainda me perturbam. Poderei? Como é fácil ser palerma no momento da apresentação.
Mas a questão fundamental ainda é a mesma: por que eu não consigo aprender com o fantástico delírio do enlace matrimonial das palavras, soltas, às vezes em forma ingênua, desenfreadamente humana, sincera nas pontuações e nobre no objetivo? Por que? Qual a razão por eu não ter percebido quanto mal me fez a ausência de um poeta? As verdades contidas em um adormecer abraçado a ele, sem frescuras e receios. Saberia, por fim, como viver sem me desgastar com pretensas insuperáveis emoções. Não quero me apoiar no discurso famoso do romantismo: ah sim! As emoções são os mais nobres objetivos da vida. Então, por que a razão? Não se separa a água do óleo assim, despropositadamente.
Não devo, pois os anos me furtaram da leitura poética, aprofundar esta inquietude. Deixo algo incompleto, pois devo recuperar algo que nunca me ofereceram. Aqui trataremos de minha história. Como receio comentar sobre algo particular em folhas de papel universalmente impessoais. Quem nos legou essa herança? A escrita é para o agir livre, não para completar frestas mal-acabadas.
Saber? Saber sobre uma história pessoal chocha, quase sem brilho, sem vontade de viver, principalmente quando os completos 13 anos se fizeram.
E onde está a atenção no aprender com a poesia? Deve estar no calabouço mental de um quase feliz, com suas quase teses de vida e um rancor no coração. Não! Não existe mais rancor, mas o que é um dizer sem expressões piegas? Veja um conto inglês famoso no ocidente! Tornou-se um ícone do romantismo mundial, como se o oriente todo se vangloriasse de um texto eleito como sublime pelos próprios ocidentais. Cadê a possibilidade de aceitação ou desapreço. Vive-se o cotidiano recebendo dizeres de negação e querem nos fazer ler algo que jamais sentiremos. E por que? Porque é e pronto! Quem irá revidar a lança jogada por um nobre? Somente um nobre, pois tem leitura. Agora eu? Eu? Sequer leram um dizer meu que jamais sairá em um jornal de grande circulação nacional. E agora ainda sabem que não fui apresentado à poesia.
Tudo bem! Escrevo para mim mesmo. Quem quer saber de algumas verdades? Mesmo que sejam as identificadas por mim. Se forem minhas, que fiquem comigo até o dia em que perderei a possibilidade de reconhecer os signos e as representações. Após isso, fica a critério de um outro quase feliz, com suas quase teses de vida e um rancor no coração – mesmo que seja apenas para um cenário primário – publicar dizeres sem aprendizado.
Como conseguir quietar o ser se não foi possível aprender a se-lo? Como? Da mesma forma que se acham pedras, pedregulhos, pedrarias sem selo no “meio do caminho”?
Minha lição existe e deve ser singular, ausente de impulsões e ânimos literários: deve ser a que me permite viver sem amarras no peito.