14 novembro, 2006

Cotidiano

Segunda-feira (ensolarada)

- Dar-te-ei esculachos, menino vadio!
- Dê-me o que quiseres, mas saiba... contarei tudo a mamãe!

- Vô virá a mão na tua cara, vadia!
- Bate que eu quero vê, bate seu puto de merda! 
Terça-feira (parcialmente nublada)- Sabes dos teus estudos, menino?
- Sei sim, certamente os farei.
- Vá estudá desocupado!
- Apá merda.
 

Quarta-feira (ensolarada)
- Cuidas da vida de tua mãe e verás o que ela fará quando descobrir.
- Minha preocupação é acerca de minha vida... somente.
- Fica mexendo nas coisas da mãe, fica...
- Não enche o saco, merda!

Quinta-feira (nublada e ventando)
- Cuide de te cobrir com o manto quando a brisa condensar.
- Assim o farei. Ah! Diga onde estão os meus sapatos...

- Leva o casaco guri!
- Valeu!

Sexta-feira (garoando)

- Cuidado com o chocheiro do Lord. Ele é arredio como o eqüino.
- Sei diferenciar a insensatez da força bruta.

- Ó o carro guri estúpido!
- Tô vendo ô!

Sábado (chovendo e ventando fraco)
- Viste os anúncios sobre a guerra? Viste? Responde logo menino, por favor!
- Absolutamente, estão em cima da escrivaninha. Conto depois.

- Cadê o jornal? Eu deixei aqui!
- Levei lá pra sala. Vê lá!


Domingo (chovendo ininterruptamente)- Sirva o menino criada. O peixe.
- Sim senhora.
- Estou grato.

- Dá ai o frango...
- Ó mãe! Ele pegou tudo!
- Peguei mesmo, tô com mais fome que você.

13 novembro, 2006

Pitangas e a pitanga

O cheiro da pitanga branca entorpece
A pitanga branca encanta
O que fazeis, querido, essa hora?
A hora do entardecer?

Foram tuas mãos que ensaboaram a lascívia
Foram teus olhos que me cansaram
Foram teus desejosos toques que me provaram
Corpos
Corpos exalando frescores
Um aroma bandeirante
Um aroma café com leite
Um aroma pantaneiro

Quantos corpos?
Quantos toques? Apaixonados?
Encantados?
Quantas maneiras de exaltar outrem?
Três corpos
Ensaboados
Frescos, frescos como pitangas
Pitangas brancas
Brancas
Pitangas e pitanga

Eram vós pitangas
Somente vós
Não a pitanga
Somente a pitanga

Quantos corpos?
Quantos toques encantados?
Quantas maneiras de exaltar outrem?
Três corpos brancos
Três amantes brancos
Frescos
Frescos como pitangas

Amarelou a cor da pitanga
Amargou o gosto das pitangas
Cor de pitanga, gosto de pitanga
E as pitangas?
Não sei mais
Foi a pitanga
Por pouco não foi sofreguidão

Macieza das pitangas
O amargor da pitanga
Sob ávidos toques
São encantos duradouros
Distante exclamou pitanga:
“Saudades de ti
Espero ouvir-te logo
Desejosos beijos de pitanga!
Teu novo amor.”

Eram vós pitangas
Somente vós
Não a pitanga
Somente a pitanga